Título: Nova esperança
Autor: Guedes, Josefina
Fonte: O Globo, 15/01/2007, Opinião, p. 7

O Fórum Econômico Mundial, que será realizado de 24 a 28 de janeiro, em Davos, traz Nova esperança para a política brasileira de comércio exterior. Isto porque o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a secretária americana de Comércio Exterior, Susan Schwab, se encontrarão para debater o avanço das negociações para reativar a Rodada Doha - um processo de liberalização comercial dos países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), lançada em 2001.

Em 2005, as negociações começaram a emperrar, pois os Estados Unidos e a União Européia apresentaram propostas de um plano agrícola pouco interessante para o Brasil e para os demais membros do G-20. Além deste entrave, diferentemente da política de comércio exterior brasileira e do G-20, nem a Índia nem a China manifestam qualquer interesse em ampliar as negociações no setor agrícola.

Entretanto, mesmo com as negociações paralisadas, os integrantes da Rodada avançaram com os debates ao longo do segundo semestre de 2006. No decorrer das negociações, o governo americano sugeriu o corte de subsídios, com a definição de um teto de US$17,5 bilhões (US$5,5 bilhões a mais do que o patamar reivindicado pelo G-20), e ainda a redução do patamar da pauta de importação agrícola protegida por salvaguardas e pelo tratamento reservado a produtos especiais, estabelecido pela Índia e por seus aliados do G-33 (outro grupo de economias em desenvolvimento).

Para que as negociações avancem, além de uma boa dose de boa vontade, é imprescindível que os Estados Unidos e a União Européia conciliem seus interesses, especialmente porque para a Europa, que enfrentou duas grandes guerras, as exportações e as importações de produtos agrícolas são mais que uma questão política: são fatores de segurança alimentar.

Apesar da divergência de interesses, os debates contínuos são bom sinal. Em setembro de 2006, Schwab e Amorim se encontraram no Rio de Janeiro e acordaram que retomariam as negociações no período compreendido entre as eleições americanas e a expiração da autorização do Congresso para que o Executivo negocie acordos comerciais, em 1º de julho. O encontro voltou a acontecer no início deste mês de janeiro, e o rumo das negociações nos leva a crer que o Fórum de Davos ajudará a desemperrar as negociações, caso as partes busquem a conciliação, com menos ambição.

JOSEFINA GUEDES é economista e conselheira técnica da Associação de Comércio Exterior do Brasil.