Título: Plataformas
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 15/01/2007, Economia, p. 14

A plataforma P-52, com capacidade para produzir 180 mil barris de petróleo e 7,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia, ainda está na fase de testes e pré-operação em Angra dos Reis, junto ao estaleiro. O deslocamento da P-52 para o campo de Roncador, na Bacia de Campos, onde ficará ancorada a 1.700 metros de profundidade, ocorrerá neste semestre, mas sem data marcada.

Com isso, não é bom contar com a produção da plataforma antes de julho. Nos próximos meses, a balança comercial brasileira do petróleo terá o impacto da produção da P-34, um navio-plataforma que foi adaptado para extrair 60 mil barris diários de petróleo do campo de Jubarte, no litoral sul do Espírito Santo. Quando esse volume for atingido, a produção capixaba atingirá 150 mil barris por dia, consolidando a posição do estado como segundo maior produtor de petróleo do país.

Na seqüência da P-34, deve ser entregue a P-54, que está em fase de acabamento no estaleiro Mauá-Jurong, em Niterói. Ela vai também para o campo de Roncador, onde deve produzir mais de cem mil barris por dia. E depois da P-52 virá a P-51, programada para o campo gigante de Marlim Sul, na Bacia de Campos, outra com capacidade para extrair 180 mil barris de petróleo e seis milhões de metros cúbicos de gás por dia. O casco e o deque da P-51 estão sendo montados em Angra dos Reis, no estaleiro Brasfels; os módulos de geração de energia e compressão de gás sairão de Niterói e do Rio.

Tanto a P-52 como a P-51 não têm similares no mundo. São projetos inovadores, de grande sofisticação tecnológica, e mesmo assim têm mais de 60% de participação da indústria brasileira, mantendo a média da década de 90.

Os investimentos da Petrobras nessas duas plataformas passaram de US$2 bilhões, mas elas ainda são consideradas equipamentos "baratos". Com a alta do petróleo e dos preços do aço, o mercado ficou muito aquecido, e agora os fornecedores estão pedindo o dobro do preço por plataformas semelhantes.

O problema é que, passado o período mais especulativo, os preços do óleo estão recuando, e na direção oposta vão os custos de extração, que praticamente dobraram nos últimos cinco anos, mesmo com a entrada em operação de vários campos gigantes.

O Rio de Janeiro deixou de ser um grande produtor de pescado há décadas. Tanto assim que os distribuidores que abastecem a cidade recebem 80% do pescado por terra, transportados em caminhões frigoríficos, vindos de outros estados. Somente 20% continuam chegando em embarcações que pescam ao longo da costa do Rio.

A pesca predatória foi a grande responsável pela queda de produção. Mas esse quadro pode ser revertido, ao menos em parte, com a maricultura, seja na Baía da Ilha Grande ou em Arraial do Cabo.

Os criatórios de mexilhões, ostras, vieiras contribuem para reconstituir a cadeia alimentar, e assim os peixes voltam a se reproduzir em quantidade nas áreas adjacentes. O reaparecimento de meros na Ponta que ainda leva esse nome na Ilha Grande, por exemplo, é, de certa forma, uma contribuição indireta da maricultura.

Perto dali , em Provetá, o maricultor Jacques Barthelemy (um belga que veio para o Brasil nos anos 70, depois de trabalhar como repórter fotográfico no Vietnã até a queda de Saigon - acabou expulso de lá pelos vitoriosos norte-vietnamitas) abate mensalmente 15 mil vieiras, das quais 10 mil se destinam ao mercado do Rio e cinco mil, a São Paulo. O faturamento é da ordem de R$250 mil por ano, e, além das dificuldades da própria natureza, é preciso resolver questões tributárias, pois a fiscalização insiste que os produtores recolham ICMS com base no número de sementes recebidas (quase todas fornecidas pelo Iedbig, o Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande), sem considerar a alta mortalidade dos moluscos.

Conhecidas na França e na Bélgica como coquilles Saint-Jacques, as deliciosas vieiras, no Brasil, somente são servidas em restaurantes sofisticados, porque custam caro, já que a oferta é muito limitada.

Ainda assim, a maricultura não garante a sobrevivência de Barthelemy, que é empresário no setor de equipamentos de segurança.

A indústria brasileira de café solúvel está a um passo de entrar em guerra com os produtores nacionais. No mês passado, Ruy Barreto Filho, vice-presidente da Abics, associação que congrega os fabricantes, esteve no Vietnã e voltou com a documentação necessária para iniciar a importação de café em grão.

Parece contra-senso um país como o Brasil, maior produtor de café do mundo (cerca de 32 milhões de sacas anuais), importar essa matéria-prima. Mas a indústria alega que o café em grão ficou caro por aqui e, por isso, os fabricantes de solúvel vêm perdendo mercado no exterior - as vendas, equivalentes a 2,3 milhões de sacas, caíram 16% no ano passado.

O café vietnamita é mais barato, e os fabricantes argumentam que o solúvel vale 15 vez mais do que o produto exportado em grão. O solúvel é feito geralmente com uma composição de cafés de qualidade (no caso o brasileiro), com outros sofríveis (o vietnamita) ou ruins (o africano). Por isso, os apreciadores da bebida ainda resistem em tomar o solúvel, visto apenas como quebra-galho.