Título: Dois corpos aparecem, 5 anos ainda estão sumidos
Autor: Farah, Tatiana e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 16/01/2007, O País, p. 3

Aposentada de 75 anos foi encontrada sob escombros; outra vítima não foi identificada

SÃO PAULO. O Corpo de Bombeiros encontrou ontem os corpos das duas primeiras vítimas do desmoronamento na Linha 4 do Metrô de São Paulo. Pelo menos mais cinco pessoas ainda estão desaparecidas. Às 4h50m, depois de 62 horas do deslizamento, o corpo da aposentada Abigail Rossi de Azevedo, de 75 anos, foi retirado dos escombros. Ela passava por uma rua próxima ao local na hora do acidente. Outro corpo foi localizado às 17h, mas até as 22h a identidade não havia sido confirmada. O corpo estava no banco de trás de uma van.

- Existe um odor forte e muitas moscas no local. O corpo está num estado bem adiantado de decomposição - relatou o coronel João dos Santos, do Corpo de Bombeiros.

As chances de encontrar sobreviventes são remotas.

- Não há indícios de sobreviventes - disse o governador José Serra (PSDB), depois de visitar o canteiro de obras, no início da tarde.

O trabalho é demorado e arriscado. A van, engolida por uma cratera com cem metros de diâmetro, está sob um platô formado pelo deslizamento. Os bombeiros conseguiram escavar por cima um caminho até o veículo, mas logo depois de encontrar o segundo corpo tiveram de recuar. Enormes fissuras nos escombros indicavam o risco de novo deslizamento de terra. Eles decidiram voltar para o interior de um dos túneis, de onde tentariam puxar o veículo. O lugar está alagado.

- A van está sem o vidro traseiro, comprimida, amassada - disse o coronel.

Até ontem, a terra retirada do local encheu 450 caminhões. São 30 bombeiros e dois cães farejadores trabalhando. Continuam desaparecidos Reinaldo Aparecido Leite, de 44 anos, que conduzia a van pela Rua Capri; o cobrador Wescley Adriano da Silva, de 22 anos; a advogada Valéria Alves Marmit, de 37 anos; o funcionário público Márcio Rodrigues Alambert, de 31 anos, e o motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, de 47 anos, que trabalhava no Metrô há um ano e quatro meses.

Baseado no relato de testemunhas, os bombeiros procuram por mais uma pessoa. A família do office-boy Cícero Augustino da Silva, de 58 anos, diz que ele está desaparecido desde sexta-feira. Mas não há confirmação oficial de que esteja entre as vítimas do desabamento.

O comandante dos bombeiros prefere não falar sobre as vítimas, mas disse que o tempo é um inimigo num momento como este.

- O tempo é nosso inimigo e a chuva também. Mas graças a Deus não chove. A esperança é a última que morre e estamos trabalhando com a possibilidade de encontrar alguém com vida - disse o coronel. (*) Especial para O GLOBO (**) Do Diário de S.Paulo

'Não existe uma causa única', afirma IPT

SÃO PAULO. Em nota divulgada ontem à noite, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) afirma que "uma sucessão de fatos" levou ao acidente no metrô de São Paulo. O instituto não arrisca apontar as causas do acidente, mas adverte que casos de grande porte, como o do metrô, geralmente são conseqüência de uma série de fatores.

"É importante lembrar que não existe uma causa única nesse tipo de ocorrência, mas uma sucessão de fatos que podem produzir verdadeiras tragédias. O IPT vai apurar com rigor cada informação para emitir resultados consistentes", diz a nota.

Segundo o IPT, a elaboração do laudo que apontará as causas do acidente no Metrô de São Paulo, no entanto, só deverá começar depois da remoção dos corpos de todas as vítImas.

"Os trabalhos técnicos deverão desenvolver-se fora do presente clima de emergência, natural diante da necessidade de atendimento prioritário às vítimas", diz a nota.