Título: Garotinho ensaia rompimento com Cabral
Autor: Camarotti, Gerson e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/01/2007, O País, p. 8
Para presidente do PMDB, governo tem núcleo elitista e quer criar 'República da Zona Sul'
De Campos veio o primeiro gesto oficial do provável rompimento entre o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, e o governador Sérgio Cabral. Deputado federal mais votado do estado, com 272.457 votos, e recém-eleito presidente municipal do partido em Campos, Geraldo Pudim puxou o coro dos insatisfeitos, na última sexta-feira, em uma reunião na sede do partido, em que emitiu nota criticando as primeiras medidas do atual governo. Garotinho, que participou por telefone da reunião, disse que existe um núcleo "elitista" e "udenista" no atual governo.
No sábado, durante a eleição que reconduziu a filha para a presidência da Juventude do PMDB, Garotinho voltou à carga e afirmou que Cabral está criando no Rio a "República da Zona Sul", conforme antecipou Ilimar Franco, na coluna Panorama Político de ontem. O ex-governador disse que as primeiras medidas do governador transformaram o PMDB em um muro de lamentações de aliados indignados com Cabral.
Demissões de parentes irritaram casal
Motivos não faltam para o rompimento. Aos amigos, Garotinho diz que se a adversária de Cabral no segundo turno, Denise Frossard (PPS), tivesse sido eleita, o clima não seria tão bélico quanto o que vive agora com o colega de partido. Entre as medidas administrativas, a que mais incomodou o casal de ex-governadores foi o anúncio, feito pela secretária de Ação Social, Benedita da Silva, de que suspenderia a distribuição do Cheque-Cidadão - programa-emblema dos oito anos de administração Garotinho-Rosinha. A ex-governadora chegou a chamar a suspensão de "amarga traição". A nomeação de Benedita, adversária política do casal, foi objeto de protestos de peemedebistas, já na posse de Cabral.
- Como é que ele teve a coragem de nomear Benedita da Silva? De acabar com o Cheque-Cidadão, quando deu a palavra de que o programa seria mantido? Existe um núcleo udenista, bem elitista, no atual governo, que parece decidido a trabalhar em direção contrária a um governo popular - afirmou Garotinho, em Campos, segundo participantes da reunião.
Geraldo Pudim, em seu discurso, afirmou que Cabral tem falhado como governador, induzido a erros por colaboradores como Benedita.
A irritação do casal com o aliado chegou ao limite depois da exoneração de dois parentes O vereador de Campos Nelson Nahim (PMDB), irmão de Garotinho, foi demitido da presidência da Fundação Estadual Norte (Fenorte) na semana passada. Presente à reunião do PMDB em Campos, Nahim classificou as últimas decisões do governador como "canalhice" e "covardia".
A telefonista Carla Pereira de Oliveira, irmã descoberta pela ex-governadora em 2005, depois de um exame de DNA, também perdeu o posto. O nome dela estava entre os 50 publicados na lista de exonerados da extinta Secretaria da Baixada, no começo de janeiro. Carla tinha um cargo comissionado, de pouco mais de R$500, adquirido depois de descoberto o parentesco.
O governador Sérgio Cabral disse, por sua assessoria, que "não tem tempo a perder" e que "não vai entrar em ti-ti-ti".
Cabral dá atenção demais à capital, diz ex-governador
Garotinho, nas reuniões partidárias, também criticou a atenção dada por Cabral à cidade do Rio, que considera excessiva. Ele afirmou que o governador anuncia medidas apenas para a Zona Sul do Rio e esquece o interior, responsável, em grande parte, por sua eleição, em 2006.
A informação de que o estado não teria recursos para pagar os salários dos servidores, divulgada inicialmente pelos secretários de Cabral, foi outro incômodo para o casal Garotinho. Na avaliação deles, a informação desgastou a imagem do grupo que deixava o governo.