Título: Chinaglia promete manter Inocêncio na Mesa
Autor: Camarotti, Gerson e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/01/2007, O País, p. 8
Petista faz acordo com deputado do PR, com quem trocou empurrões e xingamentos na votação da MP do Bem
BRASÍLIA. Para receber ontem o apoio do PR (ex-PL) à sua candidatura à presidência da Câmara, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), deu sinal verde para que o seu antigo desafeto, o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), permanecesse na Mesa Diretora da Casa. O pernambucano era o maior opositor no partido à candidatura de Chinaglia e, até ontem, fervoroso aliado do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Em outubro de 2005, Chinaglia e Inocêncio chegaram a trocar empurrões, xingamentos e ameaças em plenário, na votação da chamada MP do Bem, que reduziu impostos, e só não partiram para a agressão física mais violenta porque os colegas não deixaram. Ontem, os dois eram só sorrisos.
Pelo acordo, o hoje primeiro-secretário Inocêncio deve ser indicado pela bancada para a quarta-secretaria. A vaga seria do PT, mas passou ao PR depois da fusão do PL, PSC e Prona, já que a bancada pulou para 35 deputados. Na reunião da bancada, dos 33 votos apurados, Chinaglia recebeu 27, contra seis de Aldo. Segundo o líder da bancada, Luciano Castro (PR-RR), nove votos chegaram por carta. O acordo de Chinaglia com o PR, contudo, pode resultar em nada: PCdoB e PSB estudam formar um bloco e a vaga da quarta-secretaria passaria para eles.
Inocêncio negou que tenha negociado sua mudança de posição. Justificou-se alegando a fidelidade partidária, e não interesse num cargo na Mesa. Mas deixou em aberto a possibilidade de ser quarto-secretário.
- Acompanho meu partido. Estarei comunicando ao presidente Aldo Rebelo minha decisão de apoiar agora o Chinaglia. Vou votar e vou pedir voto para o Chinaglia. Sou partidário, só tenho uma posição, sou retilíneo. Estou votando partidariamente, e não por interesse em cargo - disse Inocêncio.
'Acordo por cargo é só comigo?'
Ao ver o constrangimento de Inocêncio, Chinaglia, que estava ao seu lado, pediu a palavra:
- Não há acordo. Foi uma decisão do conjunto dos deputados, até porque não tem cargo para todo mundo na Mesa. Se Inocêncio agora me apóia por cargo, quando era com Aldo não era por cargo? Só comigo?
Chinaglia criticou a cobertura da imprensa. Ao falar sobre o desafio de fazer a Câmara ser respeitada, citou o golpe de 64.
- Essa legislatura foi difícil, trouxe inúmeros dissabores. Nosso desafio, portanto, é ter uma Câmara respeitada pelo povo brasileiro. O Parlamento é um dos poderes mais cobrados e criticados. Conversei com um chefe de órgão de imprensa sobre como era noticiado o pré-golpe de 64, não para fazer um paralelo com a situação atual porque não há risco de golpe, mas para reiterar que a desqualificação do Parlamento nunca é um serviço para a democracia.
Durante a posse da diretoria do Sebrae, Aldo disse que o presidente da Câmara não pode ser eleito a partir de acordos regionais ou em torno de promessas nos ministérios, e sim pensando em uma agenda para o país. Aldo disse ainda esperar neutralidade do presidente Lula:
- Quando tivermos as idéias de todos os candidatos postas no debate nacional, o que querem para o Brasil, se a presidência da Câmara tem que compor uma agenda para o país a partir daquilo que seja apontado pelo Executivo, governadores e prefeitos, ou se a presidência da Câmara tem que ser eleita a partir de acordos regionais em torno de Assembleias Legislativas, a partir da configuração ou promessas ministeriais. Essa é que é a diferença fundamental: você elege o presidente da Câmara a partir desse jogo ou a partir de uma agenda para o país.
Anistia entra em pauta, diz petista
BRASÍLIA. O líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), garantiu ontem que, se eleito presidente da Câmara, colocará em votação, caso seja apresentado, o projeto de iniciativa popular que concede anistia ao deputado cassado José Dirceu (PT-SP). Ele ressaltou que faria o mesmo se o projeto beneficiasse o também deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Os dois foram pivôs no escândalo do mensalão, em 2005.
Chinaglia disse que é obrigação do presidente da Casa pôr a matéria em votação, mas que não se envolverá no processo. Dirceu faz uma forte mobilização para tentar apresentar um projeto de anistia para recuperar os direitos políticos. Precisa conseguir 1 milhão de assinaturas e usaria a estrutura do PT para colher os apoios.