Título: Dívida externa caiu US$13,9 bi com recompra
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 16/01/2007, Economia, p. 22

Governo gastou US$15,2 bi para reaver títulos no mercado internacional. Perfil do endividamento melhorou

BRASÍLIA. O governo conseguiu reduzir o estoque da dívida externa em US$13,9 bilhões em 2006 por meio da recompra de títulos públicos emitidos no mercado internacional. Essas operações, que custaram US$15,2 bilhões, também melhoraram o perfil do endividamento externo. O prazo médio desse débito, por exemplo, passou de 75,8 meses em dezembro de 2005 para 82,5 meses em novembro do ano passado. A dívida chega hoje a US$67 bilhões.

- Conseguimos alongar a dívida e reduzir a necessidade de financiamento externo a curto prazo. Isso ajuda a tornar o Brasil um país mais blindado contra choques externos - disse o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Paulo Valle.

Economia de US$8,6 bilhões entre 2006 e 2024

Segundo documento divulgado ontem pelo Ministério da Fazenda, a recompra de 2006 foi centrada em títulos com vencimento até 2012 e também nos chamados bradies (papéis da dívida reestruturada após o calote dos anos 1980). Com as operações, o governo federal economizou US$8,6 bilhões que seriam pagos entre 2006 e 2024. Deste total, US$6,1 bilhões são referentes ao principal da dívida e US$2,5 bilhões, aos juros.

"Os títulos retirados do mercado por causa dessas operações acarretaram diminuição expressiva no estoque da dívida externa brasileira, mesmo considerando as emissões externas realizadas no período. Além disso, como os títulos resgatados tinham vencimento principalmente no curto prazo, houve alongamento do prazo médio da dívida externa", afirma o documento da Fazenda.

Do total das operações realizadas, US$7,1 bilhões foram gastos na recompra de títulos no mercado secundário. Já US$6,5 bilhões foram utilizados pelo governo para exercer sua opção de recompra dos bradies. Outro US$1,6 bilhão foi desembolsado em operações de troca de papéis ao longo do ano.

Valle explicou que o governo decidiu resgatar os bradies porque esses papéis vinham sendo negociados no mercado acima do preço justo. Como esses são títulos que vêm da reestruturação da dívida externa brasileira, eles têm sua imagem associada à moratória, o que faz com que os investidores exijam uma remuneração maior para aceitá-los.

O secretário também destacou que a melhora no perfil da dívida em 2006 contribuiu para o aumento da nota do Brasil junto às agências de classificação de risco. Um indicativo disso seria o fato de o risco-país, que mede a confiança dos investidores em uma economia, ter caído de 302 pontos centesimais em janeiro de 2006 - data anterior ao início das recompras - para 188 pontos centesimais em janeiro de 2007, menor patamar da história.

Valle afirmou ainda que a estratégia do governo agora é continuar fazendo a recompra de papéis independentemente de seu vencimento. Como o governo já conseguiu alongar a dívida e não precisa captar recursos para as reservas internacionais, o foco agora será melhorar sua curva de juros.

- O objetivo é fazer captações qualitativas e melhorar a curva de juros da dívida externa - disse Valle.

Mercado revisa para cima expectativa de inflação

Com os indicadores de preços ligeiramente pressionados desde dezembro, o mercado revisou para cima a expectativa de variação do IPCA - que orienta o sistema de metas de inflação - em 2007, de 4% para 4,07%, mostrou o relatório Focus do Banco Central (BC) divulgado ontem. A meta de inflação deste ano é 4,5% (com margem de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).

A revisão do IPCA, porém, como foi muito pequena, em nada alterou o cenário para os juros básicos, hoje em 13,25% ao ano. Pela terceira semana seguida, a previsão para a taxa Selic é chegar a 11,75% no fim deste ano. O corte deve ser de 0,25 ponto percentual na próxima semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne pela primeira vez em 2007.

COLABOROU Patrícia Duarte