Título: Lula não entra em polêmica sobre estatização
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/01/2007, O Mundo, p. 27

Amorim evita criticar Venezuela, elogia integração e diz que cada país tem seu caminho, desde que democrático

QUITO. Numa passagem-relâmpago pelo Equador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou uma conversa reservada com seu colega venezuelano, Hugo Chávez, embora tenha sentado a seu lado na posse de Rafael Correa. Lula cochichou com Chávez, mas a conversa passou longe das medidas estatizantes anunciadas pelo governo de Caracas. Depois da posse, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que as medidas venezuelanas estão "dentro da legalidade", mas deixou transparecer que o governo brasileiro vê com reserva a estatização do setor elétrico:

- Mas cada país tem o seu caminho. Chávez foi eleito com 63% dos votos, e é difícil questionar uma decisão sua. Agora, cada país tem o seu caminho e não significa subscrever algo que ocorre lá como sendo o que tem de ser feito no Brasil.

Para o chanceler, o fundamental na adoção de medidas dessa natureza é que elas sejam tomadas de "maneira democrática, com respeito à vontade popular e à liberdade de expressão".

Depois de dez dias de férias no Guarujá, a posse de Correa foi o primeiro compromisso oficial de Lula, que ficou exatas quatro horas e meia em Quito e somente assistiu à cerimônia de posse no Congresso. Lula não ficou sequer para o almoço oferecido por Correa aos chefes de Estado estrangeiros. Amorim negou que o motivo tenha sido a presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, dizendo que Lula tinha tarefas a serem resolvidas no Brasil, como as medidas para aceleração do crescimento, a reforma ministerial e a sucessão na Câmara.

- O Irã é um país importante. O Brasil exporta US$1,5 bilhão para o Irã. (A presença de Ahmadinejad) É uma coisa normal, provavelmente veio a outras posses - disse Amorim.

A presença de Lula na posse de Correa é vista pela diplomacia brasileira como um gesto simbólico da prioridade dada pelo Brasil à integração latino-americana, preferencialmente aos países sul-americanos. Além disso, Lula quer influenciar a postura do novo presidente, evitando que ele tenda para o lado de Chávez e do boliviano Evo Morales. Segundo Amorim, as relações entre Brasil e Equador devem se aprofundar.

Furlan descarta problemas em relação com Venezuela

Em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, tentou ontem minimizar eventuais problemas que a radicalização da postura socialista de Chávez possa trazer às relações comerciais com o Brasil, ou com os demais parceiros do Mercosul. Apesar de anúncios como a reestatização de setores da economia, e solicitação de maiores poderes políticos, que distanciariam a Venezuela dos modelos dominantes no bloco, Furlan salientou o relacionamento econômico sólido entre Brasil e Venezuela.

- Como membro do Mercosul, o país não deve mudar seu comportamento em suas relações econômicas - disse, afirmando estar otimista com o encontro de cúpula do Mercosul, que começa no Rio na quinta.

*COLABOROU: Ronaldo Ercole, de São Paulo