Título: Jornalistas convocam protestos contra Chávez
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 16/01/2007, O Mundo, p. 28

Analistas percebem crescimento de autocensura. Rede de apoio a governo já teria mais de 300 veículos de comunicação

Os jornalistas venezuelanos estão convocando uma série de manifestações contra a decisão do governo do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), que venceria em 27 de maio. Quinta-feira, profissionais de emissoras de TV, rádio e jornais, além de membros de grupos de oposição e estudantes, sairão em passeata pelas ruas do centro de Caracas e de outras cidades do país para protestar conta a medida, vista por órgãos nacionais e internacionais como uma ameaça à liberdade de imprensa.

Analistas políticos já identificam as primeiras conseqüências da investida contra a RCTV - acusada de golpismo por Chávez - observando nos últimos dias uma autocensura por parte de muitos meios de comunicação antes críticos ao governo. Com aquisições e medidas restritivas, o número de meios de comunicação que apóiam o governo já ultrapassaria os 300, dizem.

Jornalista do "El Mundo", de Caracas, o analista político Manuel Malaver acredita que este é o momento mais grave para a imprensa no país.

- A Venezuela vive o pior momento de sua história política e institucional. Já vivemos ditaduras, no início do século XX e em meados dele, mas acho que este é o pior momento. A repressão das liberdades está sendo usada para levar adiante projetos (políticos) - disse ao GLOBO o jornalista.

Projeto seria de hegemonia na mídia, dizem críticos

Analistas políticos identificam a medida contra a RCTV como parte de uma estratégia do governo para criar uma ampla rede estatal, formada por emissoras de TV, rádios e jornais. Segundo algumas fontes, esta rede já é composta por 350 veículos de informação a favor do governo. O próximo passo do presidente seria em direção a canais de TV privados, de grande audiência. Algumas redes seriam estatizadas, passando a fazer parte da Telesur - apontam analistas. Para eles, a RCTV pode ser a primeira delas.

Hernán Castillo, professor de história e ciências políticas da Universidade Simon Bolívar, observa que muitos meios de comunicação, antes críticos a Chávez, suavizaram seu discurso em relação ao governo. Esse processo teria começado há cerca de um ano, mas alguns observadores acreditam que esteja se acelerando.

- Este é um governo que tem uma vocação hegemônica, totalitária, de controle absoluto sobre os meios de comunicação - disse Castillo. - Andrés Izarra, presidente da Telesur (canal continental), disse que a revolução necessita da hegemonia na mídia. Disseram isso muito claramente. E a não renovação da concessão da RCTV segue nessa linha.

Governador pede maior controle sobre rádios e jornais

Jornalistas e observadores políticos temem que gradualmente outras emissoras e mesmo publicações sejam afetadas. Embora os jornais não sejam alvo de uma medida específica, profissionais de empresas contrárias ao governo já teriam tido seu acesso restringido a órgãos do governo, e alguns teriam sido agredidos por simpatizantes de Chávez.

Uma prova de que a medida pode se alastrar está no anúncio que fez recentemente o governador do estado de Bolívar, Francisco Rangel Gómez. Acusando meios locais de manipularem informações, ele declarou que pedirá ao governo federal um controle maior sobre rádios e publicações de seu estado.

- Temos uma sociedade atemorizada diante de um projeto de dominação socialista. Mas não podemos subestimar o fato de que a oposição representa quatro milhões de eleitores - disse Castillo.