Título: Forca decapita meio-irmão de Saddam
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Fonte: O Globo, 16/01/2007, O Mundo, p. 29

Barzan al-Tikriti foi condenado pelo mesmo crime de genocídio de xiitas do ex-presidente iraquiano

BAGDÁ. O enforcamento ontem das duas pessoas que foram condenadas à morte junto com Saddam Hussein terminou com cenas de horror. O meio-irmão do ex-presidente iraquiano Barzan Ibrahim al-Tikriti teve a cabeça arrancada durante a execução, o que gerou uma onda de protestos de árabes sunitas.

O governo iraquiano se apressou em desmentir que a decapitação tenha sido proposital, tendo sido considerada um "incidente raro" e um "ato de Deus" pelo porta-voz do governo, Ali al-Dabbagh. Para provar que foi um acidente, o governo mostrou a gravação do enforcamento para um grupo de jornalistas iraquianos e estrangeiros.

- Pensei que o prisioneiro Tikriti tinha escapado da corda. Gritei que a corda tinha escorregado, fui até lá e olhei para baixo. Desci alguns degraus na frente dos outros para ver. Descobri que sua cabeça tinha sido separada do corpo - disse o promotor público Jaafar al-Moussawi, que testemunhou a execução.

No vídeo apresentado à imprensa, Tikriti, que foi chefe da Mukhabarat, a polícia secreta de Saddam, e Awad Hamad al-Bandar, juiz responsável pela condenação à morte de 148 xiitas da cidade de Dujail, em 1982, são conduzidos por homens mascarados para o patíbulo. Os dois, que ao contrário de Saddam foram levados para a forca vestindo trajes alaranjados de prisioneiros, pareciam muito assustados. Bandar ainda murmurava a profissão de fé dos muçulmanos, mas Tikriti nada falou. Os dois foram encapuzados antes de terem a corda presa ao pescoço.

- Eles pareciam querer demonstrar estar arrependidos. Pediram perdão a Deus - descreveu outra testemunha da execução, Bassam Ridha, porta-voz do premier Nuri al-Maliki.

Os alçapões sob os pés dos dois se abriram ao mesmo tempo. Bandar ficou pendurado pela corda, mas Tikriti pareceu descer direto, deixando a corda balançando sozinha.

Segundo o governo, a decapitação pode ter ocorrido por erro do carrasco, que pode ter prendido o nó no local errado ou exagerado na quantidade de corda.

As autoridades iraquianas afirmaram que o vídeo não será divulgado publicamente, provavelmente para evitar o mesmo tipo de reação que houve ao enforcamento de Saddam, gravado pela câmera de um celular. Um dos fatores que podem ter levado o governo a liberar as imagens para os jornalistas foi a decapitação de Tikriti. O corpo foi entregue ontem mesmo a parentes e seria impossível esconder o que ocorrera. Eles foram enterrados perto da sepultura de Saddam no vilarejo de Awja.

Apesar das explicações do governo, muitos árabes sunitas ficaram indignados com o que consideraram uma profanação do corpo de Tikriti.

- Não há como uma cabeça ser arrancada do corpo num enforcamento. Tenho certeza que eles mutilaram os corpos depois de eles terem sido enforcados - disse Ahmed Mustafa, estudante sunita de Mossul.

Abdullah al-Jubara, vice-governador da província de Saladino, onde fica Awja, confirmou a revolta de muitos sunitas:

- As pessoas estão ressentidas pelo modo como Tikriti foi executado, pelo fato de a cabeça ter sido arrancada do corpo.

Já no bairro xiita de Cidade de Sadr, em Bagdá, houve muita comemoração com as execuções.