Título: Brasil defenderá entrada da Bolívia no Mercosul
Autor: Oliveira, Eliane e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 17/01/2007, Economia, p. 25

Segundo o ministro das Relações Exteriores, país não teria que seguir mesmas regras dos demais países do bloco

BRASÍLIA. Na linha de que, quanto mais amplo, mais forte será o bloco, o Brasil defenderá, na cúpula de presidentes do Mercosul - que acontecerá amanhã e sexta-feira, no Rio - que a Bolívia seja aceita no Mercosul em condições especiais. Esta foi a indicação dada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao ser perguntado sobre a possibilidade de os bolivianos permanecerem na Comunidade Andina e não terem de seguir as mesmas regras de adequação à Tarifa Externa Comum (TEC), praticada pelos sócios plenos do bloco no comércio com outros mercados.

- O pedido da Bolívia deverá ser acolhido - afirmou Amorim. - Se a Bolívia precisa importar alimentos sem tarifas, para atender a uma população extremamente pobre em determinadas regiões do país, é algo contemplável.

O presidente Evo Morales já enviou carta manifestando desejo de ingressar no bloco, mas pediu algumas exceções, entre elas, a dispensa do uso da TEC, o que poderá ocorrer por um prazo estipulado pelos sócios do Mercosul.

Governo também espera pedido de adesão do Equador

O governo brasileiro também espera um pedido formal de adesão ao Mercosul do novo presidente do Equador, Rafael Correa, em sua estréia na reunião de chefes de Estado do bloco. Além dos presidente do Cone Sul, todos os dirigentes sul-americanos foram convidados para a cúpula.

Fontes da área diplomática admitiram, porém, que um tratamento especial à Bolívia pode acirrar ainda mais os ânimos de uruguaios e paraguaios, que já se mostram insatisfeitos com o bloco. Mas acreditam que medidas para reduzir as assimetrias econômicas na região poderão diminuir a insatisfação.

O anúncio será feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o evento e deve contemplar a facilidade de importação de insumos de outros países que não fazem parte do Mercosul e o uso imediato do Fundo de Convergência Estrutura (Focen) no desenvolvimento de projetos de desenvolvimento e infra-estrutura.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse ontem que a transferência de tecnologia de biocombustíveis para o Paraguai será um dos principais itens da pauta de discussões sobre setor energético no Mercosul - caminho para a integração regional.

Ele destacou que os paraguaios têm interesse no assunto, porque são produtores de soja e importadores de diesel. Entre esses agricultores, lembrou o ministro, estão os "brasiguaios" (brasileiros residentes no Paraguai).

A construção de uma linha de transmissão de 500 quilovolts (kV), ligando San Carlos, no Uruguai, e Candiota, no Rio Grande do Sul, também será discutida. A obra terá 400 km de extensão e o Brasil exportará a energia necessária para o país vizinho.

Outro item da pauta diz respeito ao Gasoduto do Sul, ligando a Venezuela à Argentina e passando por quase todas as regiões do Brasil. O projeto tem investimentos previstos de cerca de US$20 bilhões.

Os presidentes começam a chegar ao Rio na quinta-feira de manhã. Antes do encontro de chefes de Estado, os ministros das Relações Exteriores terão uma reunião prévia no Copacabana Palace, local do evento. Na parte da tarde, os presidentes sul-americanos abrem a cúpula falando sobre integração da América do Sul. Ministros das áreas de comércio, economia e energia terão encontros paralelos, para discutir a agenda da integração.

Governadores e prefeitos discutirão ações de fronteira

Além dos chefes de Estado do Mercosul, governadores e prefeitos do bloco participarão de um evento paralelo inédito, em que discutirão assuntos de interesse comum. De acordo com o subsecretário de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, Vicente Trevas, a importância da nova entidade é "agregar enfoques territoriais às questões da região".

- Vamos fazer um esforço coletivo para trabalhar nas fronteiras e construir uma agenda de ações concretas. Podemos fazer um planejamento sanitário comum, como no combate à dengue, por exemplo - disse Trevas.

COLABOROU: Chico de Gois

NA VENEZUELA, O IMPÉRIO DE COMUNICAÇÃO DE CHÁVEZ, nas páginas 30 e 31