Título: Diretor do FMI diz que Venezuela deve criar as condições para investimentos
Autor: Passos, José Meirelles e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 17/01/2007, Economia, p. 25

Rodrigo de Rato faz projeção de expansão mundial otimista e elogia Brasil

WASHINGTON e BRASÍLIA. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, sugeriu ontem ao governo da Venezuela, indiretamente, que, em vez de nacionalizar companhias estrangeiras, crie "condições estáveis para continuar recebendo investimentos".

- Os governos precisam levar em conta que decisões de curto prazo para aumentar a arrecadação podem ser contrárias às decisões de médio prazo para aumentar os investimentos. Do ponto de vista do crescimento, o investimento pode ser um elemento muito mais importante - disse Rato, quando perguntado sobre os planos do presidente Hugo Chávez.

Ele esclareceu que não estava fazendo um julgamento político, mas considerando as conseqüências para o crescimento venezuelano:

- Essa não é, para nós, uma discussão ideológica. Isso, para nós, é apenas uma questão de eficiência econômica.

Rato disse que o que está em jogo não é quem é o proprietário de algo, o Estado ou o setor privado, mas sim o que propiciaria um clima mais estável para os investimentos:

- Ainda não conhecemos os detalhes do que foi anunciado. Mas aconselharíamos às autoridades que mantivessem estáveis as condições de investimentos. Se o governo decidir mudar a propriedade dos meios de produção, o que se torna claro para nós é que isso tem de ser feito por meio de um processo bem regulamentado.

Rato traçou uma perspectiva otimista para o mundo em 2007, com um crescimento tão sólido quanto o de 2006 (5%). Ele ressaltou que os países emergentes - com destaque para Índia e China - vêm apresentando uma expansão vigorosa. Segundo Rato, o momento é oportuno para os países em desenvolvimento.

O chefe do FMI acrescentou que os países latinos devem reduzir suas vulnerabilidades macroeconômicas "e fazer com que o crescimento seja compartilhado de forma mais ampla em termos sociais". O Brasil, em sua opinião, trilha um sólido caminho de estabilidade e redução de pressões inflacionárias.

Em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que o "socialismo do século XXI" anunciado por Chávez é um slogan que não deverá ser exportado para outros países da América do Sul. Em sua opinião, a mudança que Chávez pretende fazer - que deverá dominar a reunião de chefes de Estado do Mercosul - não prejudicará a integração.

Amorim: medidas de Chávez não se aplicam ao Brasil

Amorim disse entender a busca por justiça social das nações sul-americanas. São países que, segundo ele, seguiram as cartilhas de organismos multilaterais de crédito, como o FMI, mas não obtiveram benefícios:

- É importante essa busca, mas é preciso levar em conta o desenvolvimento e o crescimento econômico. Quem não fizer isso está fadado ao fracasso.

Segundo Amorim, as medidas de Chávez não se aplicam ao Brasil. Tampouco o é seu discurso antiamericano:

- Sempre tivemos e vamos continuar tendo boas relações com os EUA.

(*) Correspondente