Título: Caracas estaria comprando revista boliviana
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 17/01/2007, O Mundo, p. 30

Objetivo seria ajudar o governo do aliado Evo Morales

LA PAZ e RIO. Que a estratégia de comunicação de Hugo Chávez não se restringe à Venezuela, já ficou claro há muito tempo. Mas, além de contar com um canal continental, a Telesur, o governo venezuelano estaria agora comprando uma revista na Bolívia. Segundo analistas e jornalistas bolivianos, a publicação teria como objetivo defender o governo de Evo Morales, aliado de Chávez.

A emissora de TV boliviana Cadena A informou que a revista semanal "La Epoca", de distribuição gratuita, foi comprada pelo governo venezuelano e deverá ser transformada em jornal. Os dois governos não comentaram o assunto. Já o senador Antonio Peredo, do partido do governo boliviano, confirmou as negociações, mas se recusou a dar detalhes.

O novo diretor da publicação, Hugo Moldiz, seria o principal dirigente de um "estado maior do povo", com o objetivo de defender o governo. O analista político Carlos Cordero disse à Cadena A que "há uma tentativa do governo, com a ajuda da Venezuela, de estabelecer um sistema de propaganda". Cordero reclama ainda que a rede estatal de televisão já "transmite 90% de notícias a favor do governo Morales", e que a cobertura dos demais assuntos é precária.

Segundo a Cadena A, a empresa estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA, também estaria tentando comprar um canal de TV privado para colocá-lo a serviço do governo boliviano. Além disso, o governo Chávez destinou US$500 mil para a criação de rádios populares na Bolívia.

Na Telesur, tentativa de se projetar como líder da região

A estratégia de comunicação de Chávez cruzou pela primeira vez as fronteiras de seu país em 2005, com a criação da Telesur, o canal latino-americano em que a Venezuela tem 51% das ações; a Argentina, 20%; Cuba, 19%; e o Uruguai 10%.

- O investimento na Telesur responde, em minha opinião, ao interesse de Chávez de se promover e se projetar como líder da região - explica a jornalista venezuelana Cristina Marcano ao GLOBO. - Creio que, além de satisfazer a seu ego, com a programação de caráter propagandista, há o interesse na integração comunicativa e também responde a alinhamentos de esquerda.

À frente da Telesur está Andrés Izarra, que, até o golpe frustrado de 2002, trabalhava na Radio Caracas Televisión - acusada de golpismo por Chávez e cuja concessão não será renovada em maio deste ano. Na ocasião, Izarra deixou a emissora em protesto por sua atuação durante a crise e passou às fileiras do governo.

- Primeiro como ministro da Informação e agora como presidente da Telesur, Izarra se tornou figura importante da política de comunicação do governo - diz Cristina Marcano.