Título: Correa enfrenta forte oposição no Equador
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 17/01/2007, O Mundo, p. 30

Presidente da Câmara diz que convocação de referendo é autoritária

QUITO. Em seu primeiro dia útil de governo, o presidente do Equador, Rafael Correa, já enfrentou duras críticas da oposição devido à sua polêmica proposta de reforma política no país. O decreto "unilateral e sem a necessidade de aprovação do Congresso" que Correa assinou na segunda-feira - por meio do qual convoca, para o dia 18 de março, uma consulta popular para a instalação de uma Assembléia Constituinte - foi tachado de "autoritário" pelo presidente da Câmara, Jorge Cevallos, do partido direitista Prian, dono da maior bancada.

- Ele está querendo aproveitar um momento de euforia para convocar uma Assembléia que 75% dos equatorianos nem sabem de que se trata. Correa tem a intenção de perseguir o Congresso. Se não temos Congresso, temos ditadura - disse Cevallos, prometendo, no entanto, "esperar para ver a forma com a qual o presidente conduzirá a medida".

Ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que ontem ainda estava no Equador participando de entrevistas e eventos ao lado de Rafael Correa, o novo líder disse que a Assembléia Constituinte terá como principal objetivo reformar as leis do país e será composta por 87 pessoas - 56 de representação provincial, 28 de representação nacional e 3 designadas pelos imigrantes.

- O grupo deverá ter plenos poderes por 180 dias - afirmou Correa, que enviou o texto do decreto de convocação ao referendo ontem ao Congresso, mas "por cortesia, e não para aprovação".

Analistas políticos, no entanto, acreditam que Correa não conseguirá levar seus planos adiante tão facilmente já que seu partido, a Aliança País, não possui nenhum deputado entre os cem que compõem o Parlamento do Equador. Apesar de contar com o apoio de alguns partidos de centro-esquerda, indígenas e do SP (a segunda bancada), do ex-presidente Lucio Gutiérrez - compondo uma maioria - a decisão de Correa de convocar o plebiscito sem aval dos deputados foi mal vista pelos políticos. O Congresso equatoriano destituiu nada menos do que três presidentes nos últimos dez anos.