Título: Na Venezuela, o império de comunicação de Chávez
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 17/01/2007, O Mundo, p. 30

Governo já conta com o maior sistema do país, com cinco canais de TV, oito emissoras de rádio e um complexo de estúdios de cinema

Durante os últimos oito anos, o presidente Hugo Chávez vem construindo um império de comunicação estatal na Venezuela - e que já se tornou o mais poderoso do país. Composto por uma ampla rede de emissoras de TV, rádio e mesmo um canal internacional, esse sistema de comunicação estatal faz parte de uma estratégia de governo para o setor que, segundo analistas políticos, teria como objetivo afastar as críticas e divulgar suas políticas.

Quando Chávez chegou à Presidência, o governo tinha apenas uma emissora de TV, duas rádios e uma agência de notícias. Agora possui uma rede composta por cinco canais de televisão - um deles internacional -, oito emissoras de rádio de cobertura nacional, planeja pôr em órbita no próximo ano seu próprio satélite, com a ajuda da China, e inaugurou, no ano passado, um complexo de estúdios de cinema. Além disso, anuncia o projeto de criação de uma rádio continental e financia 91 rádios comunitárias no país, com um orçamento para o setor de comunicações que ultrapassou US$93 milhões no ano passado. Nesse sistema, a figura de Chávez é presença constante.

- Chávez não apenas tem um notável talento comunicativo, como uma alta consciência da importância dos meios de comunicação. Hoje o governo é o grande magnata da comunicação na Venezuela - disse, por telefone ao GLOBO, a jornalista Cristina Marcano, autora da biografia "Hugo Chávez sem uniforme", em parceria com Alberto Barrera Tyszka.

Comunicado transmitido pela TV durante golpe militar

De fato, o próprio programa "Alô, Presidente", que pode se arrastar por horas, demonstra como Chávez percebe a importância dos meios de comunicação para divulgar suas idéias, num namoro que começou muito antes de chegar à Presidência.

- Quando deu o golpe frustrado de 1992, Chávez impôs como condição para se render que lhe dessem um breve espaço (na TV) para se dirigir ao país. Isso acabou sendo um trampolim, porque o presidente tem um carisma muito grande e explora muito bem sua imagem - contou Andrés Cañizales, pesquisador de comunicação da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas.

O governo conta ainda com o apoio de emissoras privadas que pertencem a grupos simpatizantes e de outras que não pertencem exatamente ao governo, mas o apóiam, como o canal da Assembléia Nacional. Além disso, decisões como a de não renovar a concessão da Radio Televisión Caracas (RCTV), que faz uma ferrenha oposição ao governo, podem acabar inibindo as críticas. Isso pode tornar uma política de informação hegemônica, citada recentemente pelo presidente da Telesur, Andrés Izarra, uma realidade no país.

- Ninguém neste país tem maior consciência da força dos meios de comunicação do que Chávez, porque ele próprio é um produto político dos meios - explicou o cientista político Hernán Castillo.