Título: Candidatos da base reavaliam estratégias
Autor: Gois, Chico de e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 18/01/2007, O País, p. 3

Comandos de campanhas de Chinaglia e Aldo avaliam impacto de candidatura de Fruet

BRASÍLIA. O lançamento da candidatura do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) mudou o cenário da disputa pela presidência da Câmara e deve levar a eleição para o segundo turno. Isso fez com que os comandos das campanhas dos deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) fizessem ontem uma reavaliação de suas estratégias. Durante a tarde, a bancada do PT chegou a fazer uma reunião de emergência para avaliar o impacto do lançamento da candidatura de Fruet.

Como os petistas contavam com o apoio do PSDB para vencer a disputa no primeiro turno, ontem o tom passou a ser de cautela. Um levantamento conservador feito por deputados petistas indicava que Chinaglia continuava com vantagem na disputa. Mas que a intenção de voto caiu da casa dos 250 para 210 deputados, num universo total de 513 parlamentares na Câmara.

Chinaglia contabilizava 210 votos; Aldo, 170; e Fruet, mínimo de 70

Já a candidatura de Aldo contabilizava ontem uma base de 170 deputados e a coordenação da terceira via tinha um levantamento de que Fruet partia com um mínimo de 70 deputados.

¿ Em eleição, só há dois resultados: os eleitos e os perdedores. Portanto, temos que ter cautela e evitar o entusiasmo antecipado ¿ disse o líder em exercício do PT, deputado Luiz Sérgio (RJ), logo depois da reunião da bancada.

¿ Temos que avaliar o cenário e evitar comemoração. A hora é de conseguir votos ¿ reforçou o deputado Professor Luizinho (PT-SP), que está em fim de mandato e é um dos coordenadores da campanha de Chinaglia.

A mudança de atitude dos petistas não foi por acaso. Ontem, o próprio líder do PSDB, deputado Jutahy Junior (BA), telefonou para Chinaglia e comunicou sobre a tendência da bancada do partido de voltar atrás na decisão de apoio ao petista por causa do lançamento da candidatura de Fruet.

¿ O Jutahy me alertou dessa possibilidade de o PSDB apoiar o Fruet. Com o PSDB, tenho um tratamento respeitoso. Não tenho reclamações. Vou aguardar a posição do partido e, qualquer que seja o resultado da bancada, eu vou respeitar ¿ disse Chinaglia.

Ontem, Aldo comemorou de forma discreta o lançamento do nome de Fruet. Em reunião reservada, recebeu com alívio a candidatura tucana. A preocupação da coordenação da campanha de Aldo era de que a eleição pudesse ser resolvida no primeiro turno. Seus apoiadores já davam a eleição como decidida em favor de Chinaglia, depois do apoio do PSDB ao petista. Após uma avalanche de notícias negativas que já apontavam sua derrota, Aldo voltou a ter esperanças. Oficialmente, ele evitou comemorar a candidatura da terceira via.

¿ A candidatura do Fruet destaca o caráter democrático da Câmara. Ganha a democracia porque mostra que há espaço para todas as candidaturas ¿ disse Aldo.

Ele também relatou a interlocutores que no fim de semana chegou a receber a visita da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que falava em nome do presidente Lula. A ministra sondou Aldo sobre a possibilidade de um entendimento. O presidente da Câmara deixou claro que não renunciaria e que sua candidatura iria até o fim da disputa. Ontem, no início da noite, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse que a eleição na Casa seria definida em segundo turno e que Aldo não iria desistir.

¿ Não há a menor possibilidade de o Aldo desistir. Esse tempo de retirar candidatura já existiu e já passou. Se alguém está com medo da disputa com três candidaturas, tem que administrar o seu medo. Com essas três candidaturas, inevitavelmente, vamos ter segundo turno ¿ disse Eduardo Campos.

Na composição de forças da Câmara, o PSB e o PCdoB decidiram formar um bloco parlamentar para atingir o acordo do PR (ex-PL) com Chinaglia para indicar o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) para o cargo de quarto-secretário da Câmara. O bloco vai somar 40 deputados e dará aos dois partidos o direito de indicar um cargo na Mesa Diretora. O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, informou que a intenção de formar o bloco já era antiga e que isso possibilitará a indicação para o comando de duas comissões na Câmara.

¿Não vamos aceitar acerto para derrubar a proporcionalidade¿

Mas, em reação à criação do bloco formado por PSB e PCdoB para disputar a quarta secretaria da Câmara, o PP pode se unir a outro partido, como o PR (ex-PL), para neutralizar a iniciativa dos aliados de Aldo Rebelo e garantir o acordo feito entre Chinaglia e a direção do PR.

¿ Não vamos aceitar esse tipo de acerto para derrubar a proporcionalidade da Câmara. Se isso acontecer, vamos formar um bloco ¿ avisou o líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA).