Título: Lula promete neutralidade
Autor: Gois, Chico de e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 18/01/2007, O País, p. 3

Presidente diz que Aldo e Chinaglia são `como filhos¿ e que Planalto não vai interferir

Em sua primeira manifestação sobre a disputa na Câmara depois de empossado, e após a novidade da candidatura alternativa de Gustavo Fruet (PSDB-PR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não vai se pronunciar sobre o apoio a Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ou Arlindo Chinaglia (PT-SP), e pregou a conciliação entre os dois. Lula também disse que o Palácio do Planalto não irá interferir na disputa. A declaração foi interpretada como um recado para que o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, se recolha e suspenda as articulações pró-Chinaglia, feitas à exaustão durante as férias do presidente. O PT pressiona, nos bastidores, para que Lula dê apoio público ao petista.

¿ Não vai ter interferência do Planalto. O Poder Legislativo é autônomo. Vocês sabem da relação que tenho com o Aldo e com o Arlindo. Trato todos como filhos. Eu nunca estou a favor de um filho. Vou sempre tentar criar a conciliação ¿ disse Lula, em rápida entrevista coletiva.

Na semana passada, Tarso havia dito que, a se manter a disputa entre Aldo e Chinaglia, o governo, em algum momento, iria se manifestar sobre qual dos dois teria mais viabilidade eleitoral. Mas Lula afirmou que, caso não haja consenso, o resultado da votação será respeitado.

¿ Eu gostaria que eles tivessem se colocado de acordo e que tivéssemos um candidato. Não foi possível e vamos esperar o resultado.

Mesmo afirmando que não interferirá, o presidente deixou claro que ainda espera uma conciliação.

¿ Quando tem dois companheiros que você considera como irmãos e como filhos, você não toma partido. Você espera que eles resolvam. Se eles não resolverem entre os dois, a democracia, pela sua maioria, elege aquele que a Câmara entender o melhor.

Presidente não teme divisão na base

Lula declarou que não teme uma divisão na base aliada por conta da disputa na Câmara. Para o presidente, o Congresso sabe de sua responsabilidade e nunca faltou na hora de aprovar projetos de interesse do Brasil.

¿ O Congresso tem consciência do papel que ele joga na política nacional. Por mais que tenha havido divergências no Congresso, ele sempre aprovou as coisas importantes para o Brasil e acho que vai continuar aprovando. Eu nunca vejo dificuldades na relação com o Congresso.

Aldo reagiu com bom humor à declaração de Lula que trata como filhos ele e Chinaglia. E gostou da aparente neutralidade do Planalto.

¿ Por um lado, me sinto rejuvenescido. Tenho gratidão pelo presidente porque me fez me sentir mais jovem. Respeito e compreendo a posição dele. Quando há disputa no Legislativo, a expectativa é de que o chefe do Executivo seja prudente, e o presidente adotou uma posição de prudência.

Sobre a mudança de postura de Lula, que antes insistia numa candidatura única na base aliada, Aldo respondeu apenas que sua candidatura não é do governo, mas de toda a Câmara.

Já Tarso Genro disse que o governo não está preocupado com o lançamento da candidatura de Fruet:

¿ Do ponto de vista do governo, a situação na Câmara não preocupa. Agora apareceu uma terceira candidatura, que tem toda a legitimidade para se apresentar, mas na nossa opinião não há sinais de instabilidade política nas relações internas da Câmara e não há nenhuma sinalização, como produto deste processo eleitoral interno, de qualquer desarmonia ou estranhamento entre os poderes. Vamos continuar acompanhando.

Para o ministro, a divisão entre os partidos da base na disputa é ¿meramente conjuntural¿.

¿ O que estamos apostando é que a base de governo se mantenha forte, que essa divisão eventual não gere a possibilidade de derrota de um dos candidatos da base. Mas aquele que for eleito vai ter o mesmo respeito.