Título: Bombeiros retiram terceira vítima de desabamento
Autor: Freire, Flávio e Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 18/01/2007, O País, p. 10

Funcionário da obra, ele alertou para rachaduras; corpo de advogada foi enterrado ontem

SÃO PAULO. O corpo de Francisco Sabino Torres, de 47 anos, foi o terceiro resgatado dos escombros do desabamento na Linha 4 do Metrô de São Paulo. Foi retirado às 6h15m de ontem, em estado avançado de decomposição. Segundo laudo do Instituto Médico-Legal (IML), Torres morreu instantaneamente com o choque, sem asfixia. Até as 22h, as equipes de resgate tentavam retirar uma van que transportaria quatro pessoas. A advogada Valéria Alves Marmit, de 37 anos, que viajava no banco de trás, foi encontrada na terça-feira e enterrada ontem em Carapicuíba (região metropolitana de São Paulo). Além dos dois, também morreu no desmoronamento a aposentada Abigail de Azevedo, de 75 anos, a primeira a ser encontrada sob os escombros.

Mineiro de Joanésia, Torres era casado e tinha três filhos (de 14, 16 e 19 anos). Era motorista de caminhão e trabalhava havia um ano e cinco meses na obra do Metrô. Colegas contam que ele teria sido um dos primeiros a perceber as rachaduras. Teve tempo de avisar outros trabalhadores, mas decidiu voltar para buscar documentos que havia esquecido no caminhão.

- Ele correu na frente, mas voltou para pegar a carteira de motorista - contou o irmão, José Afonso Torres.

O corpo do motorista, encontrado com ajuda de cães farejadores, estava sob um caminhão que caiu na cratera no dia do desabamento. O resgate só foi possível depois que os bombeiros deslocaram o veículo com uma retroescavadeira.

O trabalho é lento e a escavação tem sido feita de forma manual, diante do risco de novos desabamentos. A chuva que voltou à cidade também atrasou o resgate. Em nova estratégia, os bombeiros usaram um cabo de aço para prender a van a uma retroescavadeira, com o objetivo de puxar o veículo por um dos túneis construídos no local. A primeira tentativa não deu certo por causa do excesso de lama.

- Vamos fazer uma limpeza do piso para que a máquina tenha tração melhor. A idéia é puxar a van para baixo (o veículo está a 20 metros de profundidade) - disse o capitão Mauro Lopes.

Ele anunciou que os bombeiros passaram a trabalhar com a possibilidade de serem seis, e não mais sete, as vítimas do desabamento. Assim, continuariam desaparecidos o motorista da van Reinaldo Aparecido Leite, o cobrador Wescley da Silva e o funcionário público Márcio Rodrigo Alambert. A família de Cícero Augusto da Silva, de 58 anos, disse à Defesa Civil que ele está desaparecido, mas não há confirmação de que esteja entre as vítimas.

- É uma suposição (sobre a sétima vítima). Trabalhamos com informações concretas. Quando tirarmos a van, vamos fazer nova varredura (com cães farejadores) - afirmou o capitão.

O governador José Serra, o prefeito Gilberto Kassab e o secretário estadual de Justiça, Luiz Antônio Marrey, acompanharam o enterro da advogada Valéria Marmit. Serra conversou com a família. O consórcio de empreiteiras responsável pela obra da Linha 4 do Metrô enviou uma coroa de flores com os dizeres "Nossos profundos sentimentos".

- Não tive tempo de pensar no que vou fazer, mas espero justiça - afirmou o ex-marido, Vagner Marmit, que descartou, por enquanto, apresentar ação.

A Transcooper, dona da van engolida pela cratera, informou que contratou seguro para cobrir danos a terceiros e os passageiros terão direito a dividir indenização total de R$200 mil, dos quais R$100 mil seriam por "danos corporais". As famílias do motorista e do cobrador receberão R$29 mil cada. Um culto ecumênico no local do desabamento reuniu pela manhã cerca de 30 pessoas. (Tatiana Farah, Flávio Freire e Adauri Antunes Barbosa)

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