Título: Dinheiro e pressa para mobiliar apartamento
Autor: Moreira, Gabriela e Meirelles, Sérgio
Fonte: O Globo, 18/01/2007, Rio, p. 14

Viúva de ganhador da mega-sena pagou R$5.400 em eletrodomésticos 'cash' e não quis esperar entrega da loja

Adriana Almeida, a viúva do ganhador da mega-sena Renné Senna, assassinado no último dia 7 em Rio Bonito, ainda não começou a desfrutar do conforto da cobertura que comprou, no início deste mês, em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos. O apartamento na Prainha, área nobre da cidade, avaliado em R$300 mil, tem três suítes, salão, dois lavabos, cozinha, área de serviço, amplo terraço e três vagas de garagem.

Segundo funcionários do edifício, Adriana não aparece na nova casa desde 3 de janeiro, quando fechou a compra do imóvel. No dia seguinte, no entanto, Adriana esteve numa loja em Rio Bonito e comprou fogão, geladeira e máquinas de lavar roupa e louça. A compra dos eletrodomésticos custou R$5.400 e o pagamento foi feito à vista, em dinheiro. Adriana tinha pressa de levar os aparelhos domésticos para casa e não quis que a loja fizesse a entrega. Um caminhão alugado por ela levou os equipamentos, no mesmo dia, para o novo apartamento.

Segundo testamento ainda é incógnita

Os advogados dela ainda não apresentaram à polícia o segundo testamento que teria feito nem a procuração que Renné teria deixado para um advogado pedir o exame de DNA de Renata, filha de Renné. Os documentos foram citados no depoimento prestado por Adriana na última sexta-feira.

- Apesar de eu ainda não ter visto a procuração e o testamento, sei que eles existem e vão aparecer - disse o advogado Renato Cerqueira.

Em mais um dia de depoimentos, que duraram mais de seis horas, três seguranças de Renné foram ouvidos. Entre eles Adalberto Lucena, sargento bombeiro que trabalhou com Renné desde o dia em que o ex-lavrador ficou milionário. O sargento negou que tenha sido demitido por Adriana e disse que se desligou de Renné por não conseguir conciliar o trabalho de segurança com seu trabalho no Corpo de Bombeiros.

Foram ouvidos também dois atuais seguranças - Valcinei da Silva Conceição, lotado no Hospital da Polícia Militar de Niterói, e Luiz Fernando Pinto Nocchi, lotado no Centro de Formação e de Aperfeiçoamento de Praças (Cefap) - mas, segundo o delegado Ademir Oliveira, eles pouco acrescentaram às investigações. Para hoje estavam previstos depoimentos de familiares de Renné, mas eles foram adiados porque falta ouvir mais três seguranças, um deles o cabo da PM Fernando José Gonçalves Júnior, lotado no 35º BPM (Itaboraí).

Em 2005, Renné ganhou sozinho R$52 milhões na mega-sena. Ele foi morto com quatro tiros de pistola em frente a um bar. Os bandidos - dois homens numa moto - fugiram levando apenas a pochete da vítima, que não tinha as duas pernas e usava um quadriciclo para locomoção. Os criminosos deixaram para trás as jóias de ouro do ex-lavrador.

O crime abriu uma guerra pela herança entre Renata e a madrasta. A enteada afirma que Adriana traía o milionário com seus seguranças. Esta alega que Renata não era filha legítima de Renné.

Ex-cabeleireira, Adriana hoje mora numa fazenda em Rio Bonito avaliada em R$9 milhões e tem quatro carros. Vinte e cinco anos mais nova que a vítima, era objeto de desejo de Renné quando ele ainda era pobre, foi casada duas vezes e despertava os ciúmes do companheiro. O primeiro marido, pai de um dos seus três filhos, seria, segundo vizinhos, um ex-presidiário que ganhou a liberdade recentemente. Mesmo sem posses, ele teria sido visto recentemente circulando de carro por Rio Bonito.

* Do Extra