Título: Chávez quer Banco do Sul
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 18/01/2007, Economia, p. 25

Venezuela propõe usar 10% das reservas para países pararem de 'mendigar'. Equador apóia

Sob o argumento de que os países sul-americanos não podem mais continuar "mendigando" junto a organismos financeiros multilaterais, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tentará emplacar, na reunião de cúpula de chefes de Estado do Mercosul, que começa hoje no Rio, a criação do Banco do Sul. Chávez está disposto a depositar na instituição 10% de suas reservas internacionais, hoje em cerca de US$36,2 bilhões.

- A Venezuela está pronta para colocar ao menos 10% de nossas reservas. Que os demais façam o mesmo e tenhamos um banco, que começará modesto, mas em cinco ou três anos não nos fará falta o Banco Mundial, nem precisaremos andar mendigando pelo mundo - disse Chávez à estatal venezuelana Agência Boliviariana de Notícias.

A proposta tem o apoio do recém-empossado presidente do Equador, Rafael Correa. O Brasil também nunca se opôs à idéia, apesar de já ter o BNDES. O Banco do Sul, segundo uma fonte da área diplomática, está na pauta, pois a região precisa se integrar fisicamente. Mas nem todos os países teriam condições de participar, pelo menos num primeiro momento. O banco ainda teria a função de administrar as reservas da região - um objetivo mais ambicioso, pois prevê o início de uma grande integração financeira.

Mercosul teme influência política de Chávez

A favor de Chávez também está a alta do preço do petróleo no mercado externo desde que ele venceu a primeira eleição, há quase dez anos. Os petrodólares reforçam seu caixa e lhe dão fôlego para fazer promessas que enchem os olhos de Correa e do boliviano Evo Morales. O presidente venezuelano também deve anunciar recursos para o Fundo de Convergência Estrutural, cuja função é corrigir assimetrias econômicas no Mercosul.

Chávez será a principal estrela da cúpula do Rio. Todos querem saber mais detalhes sobre a "Socialização do século XXI" na Venezuela, com a nacionalização de energia e telecomunicações. Mais próximo do Mercosul, a despeito de suas críticas ao bloco - na última reunião de presidentes sul-americanos, na Bolívia, ele sugeriu que o Mercosul fosse sepultado -, Chávez está cada vez mais distante de Colômbia e Peru. Ele não se conforma com o acordo de livre comércio firmado pelos EUA com os dois países.

Recém-associada ao Mercosul como membro pleno, mas sem direito a voto, a Venezuela é vista com certa cautela, pelo receio de que Chávez insista em dar um perfil político-ideológico ao bloco, deixando o comércio em segundo plano.

- A aceitação do pedido da Bolívia para entrar no Mercosul pelos países do bloco tende a fortalecer a influência de Chávez no Mercosul - disse uma fonte.

O novo presidente do Equador também fortaleceria ainda mais o venezuelano, que, fatalmente, disputaria de forma mais clara com o Brasil a liderança na região, avaliam fontes.

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