Título: Argentina: Brasil tem visão política
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Fonte: O Globo, 18/01/2007, Economia, p. 26

Bolívia diz que não vai entrar 'com olhos fechados no Mercosul'

BUENOS AIRES. A Cúpula de Presidentes do Mercosul começa hoje num clima de forte divergência entre os dois principais sócios do bloco. Segundo confirmaram negociadores do governo Néstor Kirchner ao GLOBO, nas reuniões prévias ao encontro dos presidentes representantes do Brasil e da Argentina não conseguiram chegar a um acordo sobre que tipo de mecanismos devem ser criados para ajudar os países menos desenvolvidos do Mercosul (Paraguai e Uruguai). Na visão dos argentinos, afirmou uma fonte do governo Kirchner, "o Brasil tem uma visão política do processo e prioriza, por exemplo, a permanência no bloco de países como o Uruguai, que nos últimos meses confirmou sua intenção de avançar em negociações com os Estados Unidos".

- Para o Brasil, o importante é a questão política, a unidade do bloco em meio às pressões do governo americano. Mas para a Argentina o importante é a questão econômica, passamos por uma crise muito grave e hoje temos de ser cautelosos - explicou o negociador argentino, horas antes de chegada do presidente Kirchner ao Rio.

O governo argentino rechaçou a proposta do Brasil, que previa a redução do percentual de insumos nacionais em produtos uruguaios e paraguaios para que sejam considerados "produtos do Mercosul".

- Se a proposta brasileira fosse aplicada, uma empresa uruguaia ou paraguaia poderia ter apenas a mão-de-obra nacional, o resto seria importado. Isso permitira invasão de insumos asiáticos que não podemos permitir, nossa economia não está em condições de suportar - assegurou o negociador argentino.

Outro item da agenda dos presidentes será o início das negociações para incorporar a Bolívia como membro pleno do Mercosul. O processo pode demorar até um ano. Ontem, importantes autoridades do governo Evo Morales afirmaram que, apesar das exigências do Mercosul, seu país não pretende abandonar a Comunidade Andina de Nações (CAN).

- Não vamos entrar com os olhos fechados no Mercosul como entramos na CAN - disse o chanceler boliviano, David Choquehuanca.