Título: Lula desautoriza barganha
Autor: Peña, Bernardo de la e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/01/2007, O País, p. 3

Com candidatura de tucano, governo e PT consideram ter perdido o controle da disputa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e das Relações Institucionais, Tarso Genro, consideram que perderam o controle da disputa pela presidência da Câmara, que nada mais há a fazer e, por isso, o recuo tático do Palácio do Planalto foi anunciado. Lula desautorizou petistas a negociar espaços ou liberação de verbas em seu governo em troca de apoio à candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP). Para o público externo, o governo tenta demonstrar que não está preocupado com o desenrolar da disputa no Legislativo, apostando que um de seus aliados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ou Chinaglia, vencerá a disputa. No entanto, internamente a aparente calmaria está se transformando em tormenta. Todos estão preocupados com a possibilidade de a competição entre Aldo e Chinaglia produzir, sim, um resultado desastroso, como no episódio da eleição de Severino Cavalcanti, com a vitória da oposição.

O pânico que se instalou no PT e no governo foi ilustrado ontem pelo próprio Chinaglia. Ele disse se empenhar para ganhar no primeiro turno, mas admite que terá de trabalhar dobrado para garantir a vitória num eventual segundo turno, agora que há um terceiro nome na briga, Gustavo Fruet (PSDB-PR). Sobre essa possibilidade, o petista disse:

- Não tenho bola de cristal. Estou trabalhando para ganhar a eleição para presidente.

Depois da entrevista, Chinaglia admitiu, em tom de brincadeira, que já considerava quase vencida a eleição.

- Eu já estava com a taça na mão e agora vou ter que retrabalhar os votos.

Numa conversa na noite de terça-feira, Lula disse ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, aliado de Aldo, que não vai permitir que o governo seja envolvido na disputa e que quem estiver fazendo promessas em nome do governo mente.

- Se alguém de qualquer partido da base estiver oferecendo qualquer coisa em nome do governo, é um oferecimento desonesto. É moeda falsa porque está oferecendo o que não tem como pagar. O governo não vai bancar acordo ou aliança feito nestas bases - respondeu o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, ao ser perguntado sobre o assunto.

"Este não é o melhor cenário", admite Wagner

Campos, presidente do PSB, deve formalizar o apoio do partido à candidatura de Aldo na semana que vem. Ele disse acreditar que o jogo não está decidido, apesar da vantagem de Chinaglia, que conta com o apoio do PMDB:

- Estamos fechados com a candidatura de Aldo. Mas a eleição na Câmara é como final de Copa do Mundo, só termina quando o juiz apita. E os votos não são dos partidos, mas dos seus 513 donos - afirmou, numa referência ao fato de a votação ser secreta. - Com a candidatura do Fruet, temos dois turnos. Quem tiver medo dos dois turnos, trate de administrá-lo.

O governador baiano Jaques Wagner (PT) concorda. Ele acredita que nenhum dos candidatos sairá do páreo. Lembrou ainda que os petistas não podem reclamar, porque já tiveram candidaturas independentes, como a dos então deputados José Genoino e Aloizio Mercadante à presidência da Câmara, quando o partido estava na oposição.

- Este não é o melhor cenário. Deveríamos ter conseguido unificar. Mas qualquer um tem o direito de lançar a sua candidatura. Sempre defendemos essa tese - ponderou Wagner.

Enquanto Aldo e Chinaglia corriam sozinhos em busca de votos, a preocupação do governo restringia-se ao pós-eleição: curar as feridas e reunir os aliados para pôr em prática o tão anunciado governo de coalizão. Agora, com o lançamento da candidatura de Fruet, há pesadelos com a repetição do efeito Severino - quando dois petistas perderam.

O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que esteve anteontem no Planalto para um evento de prefeitos aliados com o presidente Lula, desabafou para um aliado:

- Meu Deus do céu, vai dar m... Tudo caminha para o mesmo desfecho. O PT vai cometer o mesmo erro duas vezes!

Aldo e Chinaglia conversaram com o presidente, antes de ele sair de férias, e avisaram que não arredam pé e que chegou um momento em que os barcos foram queimados e voltar atrás é impossível. A última cartada foi dada por Dilma Rousseff, que foi falar com Aldo no fim de semana para dizer que Lula e o governo estavam preocupadíssimos. Mas como não houve abertura por parte de Aldo, ela não chegou a pedir que ele recuasse ou desistisse. Em encontros com aliados, Dilma nega que tenha oferecido o Ministério da Defesa para que Aldo desistisse.