Título: Consórcio aponta falha em projeto do Metrô
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 19/01/2007, O País, p. 8

Ao contrário do que dizia estudo da estatal, pedras do túnel que desabou não eram sólidas, dizem empreiteiras

SÃO PAULO. Poucas horas antes do acidente na Linha 4 do Metrô, as empreiteiras responsáveis pela execução da obra realizaram, no túnel que desabou, duas explosões para eliminar irregularidades na parede do local. Na véspera, eles haviam detectado aumento nos recalques (rebaixamentos) do túnel. O objetivo das explosões era eliminar as irregularidades e instalar cambotas (treliças de aço) - uma mudança nos métodos de execução. O motivo da mudança foi uma falha no projeto básico elaborado pelo Metrô antes do início da obra, segundo o engenheiro Celso Rodrigues, coordenador de produção da Linha 4.

De acordo com o engenheiro, o Metrô fez 16 perfurações para avaliar o solo da região da estação Pinheiros. Com base neste levantamento, o Metrô elaborou o projeto da obra.

Depois de vencer a licitação, o Consórcio Linha 4 fez outras dez perfurações e constatou uma diferença importante: o solo onde foi feito o túnel que desabou não era composto de rochas sólidas (biotita gnaisse), mas de pedras apodrecidas (saprolito de gnaisse). Isso levou à mudança do método previsto no projeto básico (aplicação de cabos chumbados nas paredes) para o de cambotas (armações de treliças de aço), 25% mais caro. Os cabos chumbados não ficavam firmes o suficiente.

- Este aumento de sondagens nos obrigou a mudar o que estava previsto como metodologia executiva, que eram simplesmente chumbadores ao longo do teto - disse Rodrigues.

Os responsáveis pela obra, no entanto, se apressaram a negar que ao divulgar estes dados estejam tentando se eximir de culpa.

- Não estamos afirmando, de jeito nenhum, que a culpa é do Metrô - disse o gerente de administração contratual da Linha 4, Wagner Marigoni.

Procurado para comentar as declarações dos técnicos, o Metrô não se pronunciou.

"Dados não eram alarmantes"

Fontes que tiveram acesso à construção admitiram que duas explosões foram feitas por volta das 8h de sexta-feira. Moradores da região haviam dito que ouviram explosões no dia do acidente mas o Metrô dizia que o barulho era eco de detonações em outros túneis.

Na quinta-feira os engenheiros da obra haviam detectado aumento nos recalques (rebaixamentos) do teto do túnel. De acordo com as fontes ouvidas pelo GLOBO, as explosões foram feitas depois de reunião na qual os técnicos consideraram não haver risco no local.

- Os dados estavam condizentes com a expectativa de trabalho. Não eram alarmantes- disse Celso Rodrigues.

De acordo com ele, os instrumentos não apontaram risco algum e o desastre foi abrupto. Cerca de 25 homens trabalhavam no túnel quando ouviram um estalido e procuraram as rotas de fuga. O elevador localizado no fosso de ventilação, com capacidade para 12 pessoas, levou 18. Outros sete homens, mais próximos do local do desabamento, foram arremessados pelo deslocamento de ar. Entre o estalido e o primeiro desmoronamento se passaram dois minutos, segundo Rodrigues.

- Existem muitas possibilidades que podem levar uma obra à ruptura. Não quero entrar no detalhe porque as causas estão sendo investigadas. Pode ser erro de construção, de projeto, falha geológica, tudo vai ter que ser investigado.

Em evento semelhante na obra da estação Santo Amaro foram necessários dez minutos para evacuar pessoas e bloquear ruas. Segundo Rodrigues, foi a falta de tempo, e não de um plano de evacuação, que teria provocado as mortes.