Título: Brasil e Venezuela assinam acordo que cria o Grande Gasoduto do Sul
Autor: Galeno, Renato e Rodigues, Luciana
Fonte: O Globo, 19/01/2007, Economia, p. 26

Parceria no setor energético se sobrepõe à retórica ideológica de Chávez

Enquanto a comunidade internacional se preocupa com os ainda desconhecidos desdobramentos do anunciado socialismo do século XXI na Venezuela, o primeiro dia da Reunião de Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul serviu para mostrar o avanço da parceria Brasil e Venezuela. Os dois governos assinaram vários acordos na área de exploração, refino e distribuição de petróleo e gás natural e avançaram em discussões sobre cooperação em outras áreas. O principal acordo, assinado no fim da tarde de ontem pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, foi o do Grande Gasoduto do Sul, que deverá sair da Venezuela até a Argentina, atravessando o Brasil e com ligações com Bolívia, Paraguai e Uruguai.

O gasoduto inicialmente tinha sido orçado em US$23 bilhões mas deve ter os custos bem mais elevados, pois, segundo o acordo de ontem, teve o traçado alterado e aumentado. Ele seria construído em sete anos. O primeiro trecho será entre a cidade de Güiria, no Norte da Venezuela, até o porto de Suape, próximo a Recife. No caminho, passará por Manaus e pelo estado do Ceará. Os presidentes da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e da estatal venezuelana de petróleo, a PDVSA, Rafael Ramírez, afirmaram que todos os estudos relativos ao projeto serão realizados este ano.

- Teremos o ano de 2007 para realizar os estudos de engenharia conceitual. Haverá ramificações para as capitais do Nordeste e do Norte. Serão mais de cinco mil quilômetros - afirmou Gabrielli.

Petrobras e PDVSA criarão empresa mista na Venezuela

Pelo acordo, pelo gasoduto até Recife passaria metade da produção do complexo gasífero Mariscal Sucre, cujas reservas, segundo o governo venezuelano, é de 400 bilhões de metros cúbicos. A Petrobras teria acesso a ele na fase de estudos.

A produção de Mariscal Sucre é de 17 milhões de metros cúbicos por dia, sendo metade destinada ao mercado interno da Venezuela. Quando o gasoduto atingir a plena capacidade, deverá escoar 50 milhões de metros cúbicos por dia de gás, produzidos também em outros campos da Venezuela.

Segundo Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência, o governo venezuelano sugeriu que sejam assinados tratados internacionais.

- A proposta foi feita por Chávez, e o Brasil demonstrou interesse. O gasoduto seria objeto de tratados internacionais. Assim, o marco jurídico estaria resolvido, pois deveria haver aprovação dos parlamentos. Não ficaria sujeito a transitoriedades - disse Garcia, que citou problemas ocorridos na usina de Itaipu. - A intenção é eliminar a idéia de risco.

Menos de duas semanas depois de o governo venezuelano anunciar a nacionalização dos setores de energia, foram anunciados ontem acordos que criarão empresas mistas entre Petrobras e PDVSA. A companhia que será criada no campo de petróleo Carabobo-1, na Faixa do Orinoco, terá controle acionário da PDVSA, que terá 60% - o restante será da Petrobras.

Já a empresa Brasileira terá 60% da refinaria de Abreu de Lima, em Recife, com os outros 40% cabendo à estatal da Venezuela. Segundo fontes do governo Brasileiro, o trabalho de terraplanagem na refinaria estará completado em julho deste ano. A exceção será o campo de Mariscal Sucre, no qual a PDVSA terá 65% do controle da empresa mista.