Título: Mudar a agenda
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 20/01/2007, O Globo, p. 2

O presidente Lula espera mudar a agenda política com o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O governo considera que a disputa pelas eleições da presidência da Câmara virou uma agenda negativa. O noticiário sobre o loteamento de cargos incomoda o presidente. Foi por isso que o ministro Tarso Genro declarou que o governo não dará aval a este tipo de acordo.

Os petistas se consideram os sábios do Sião. Mas bastava ter verificado a experiência do governo Fernando Henrique para saber que disputas na base governista não rendem boas manchetes. Nos oito anos em que os tucanos estiveram no poder, a base aliada viveu várias escaramuças. A mais grave delas resultou na eleição do atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves, para presidente da Câmara, no rompimento entre PSDB e PFL, e nas renúncias do ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e do seu então presidente, Jader Barbalho (PMDB-PA).

O conflito ocorreu em parte porque o presidente Fernando Henrique, em 2001, estava enfraquecido para intervir. No caso do governo Lula é pior. Se confirma a regra de que em política os partidos, e líderes, cometem sempre os mesmos erros. Em 2005 Lula deixou o barco correr, não interveio com energia, e os petistas entregaram as eleições da presidência da Câmara para Severino Cavalcanti. Agora, o presidente Lula voltou a deixar a nave à deriva e perdeu o momento para intervir e conter a disputa na base aliada. Isso ocorreu a despeito dos principais assessores do presidente terem dito que finalmente Lula entendera a importância do Congresso.

O resultado é que o governo Lula está no meio de um debate sobre o uso da máquina entre os aliados. A oposição não faria melhor nem com mais eficiência. Os petistas, que dominam a máquina do governo Lula via Casa Civil, que coordena as ações de governo, e via Relações Institucionais, que faz a coordenação política, criaram uma expectativa entre amplos setores dos aliados de que a lealdade à candidatura Arlindo Chinaglia (PT-SP) resultará em cargos e verbas. Insatisfeito com essa situação, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), partiu para o contra-ataque e não perde oportunidade de denunciar o aparelhamento da máquina pelos petistas. A disputa é o início de uma crise, que se arrastará pelos próximos três anos, e que poderá ter como desfecho a divisão nas eleições de 2010. Os aliados de Chinaglia trabalham na perspectiva da candidatura Marta Suplicy. Os aliados de Aldo vislumbram a candidatura de Ciro Gomes.