Título: Eleições podem ditar entrada da Sérvia na UE
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 21/01/2007, O Mundo, p. 40

Nacionalistas contrários à autonomia do Kosovo, apoiada pelo Ocidente, podem vencer, emperrando negociações

BERLIM. Um duelo entre as forças nacionalistas e pró-União Européia (UE) promete marcar as eleições parlamentares na Sérvia, hoje, que serão decisivas não apenas para o futuro do país, mas também para o da província do Kosovo. Depois da divulgação do resultado, o encarregado da ONU para a província, o finlandês Martti Ahtisaari, deverá apresentar uma sugestão sobre o futuro status do Kosovo ¿ que já foi motivo de uma guerra sangrenta e que continua gerando divergências entre sérvios e albaneses.

Se os nacionalistas do Partido Radical Sérvio (SRS) de Tomislav Nikolic conseguirem o melhor resultado, a questão do Kosovo voltará ao ponto de partida de antes da guerra.

¿ O Kosovo sempre foi uma parte da Sérvia ¿ disse Nikolic, sucessor de Vojislav Seselj à frente do partido.

Para jovens, entrada na Europa é mais importante

Nikolic assumiu a liderança depois que Seselj foi a julgamento no Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, em Haia. Ele procura angariar votos com o combate à pobreza e à corrupção e frases nacionalistas contra qualquer projeto de autonomia do Kosovo.

As eleições sérvias, portanto, serão acompanhadas atentamente em Pristina, a capital do Kosovo, onde o primeiro-ministro Agim Ceku vem advertindo os sérvios a não elegerem nacionalistas:

¿ Se os eleitores votarem em políticos nacionalistas radicais, a Sérvia perderá não só o Kosovo, mas qualquer perspectiva de integração à comunidade européia.

Opinião idêntica à do politico albanês tem o presidente sérvio Boris Tadic, do Partido Democrata (DS), o mesmo do ex-primeiro ministro Zoran Djindjic (primeiro a governar a Sérvia após o fim do regime de Slobodan Milosevic). Djindjic foi assassinado e é um ídolo no pais.

Para Tadic, o Kosovo é uma parte da Sérvia, mas a política precisa ser pragmática. Como o Ocidente e a União Européia são favoráveis à independência do Kosovo, nenhum partido sérvio poderá evitá-la, pensa ele.

O DS e o SRS estão empatados como os favoritos, segundo as últimas pesquisas. Para atrair simpatizantes de Djindjic, a sua viúva Ruzica Djindjic é também candidata ao Parlamento. Mas se o DS conseguir a maioria, o primeiro-ministro não será Ruzica, diferentemente do divulgado semanas atrás, mas sim Bozidar Djelic, que havia deixado a política após a morte de Djindjic, mas voltou com a intenção de frear Nikolic.

O terceiro na preferência do eleitorado é o atual presidente Vojislav Kostunica, do Partido Democrata da Sérvia (DSS). Kostunica, de 62 anos, foi aliado de Djindjic contra Milosevic, mas depois passou a ser o seu maior rival, tendo contribuído para a recusa da Sérvia de entregar Ratko Mladic (acusado de crimes de guerra) a Haia ¿ o que foi o principal obstáculo ao início das negociações da Sérvia para o ingresso na UE.

Para a geração jovem do país, que já passou por uma guerra nacionalista vista como sem sentido, a recusa de entrega de Mladic, e uma possível recusa da independência do Kosovo, é vista como um preço alto a pagar, significa perder a chance de integração à UE.

¿ Nós já pagamos um preço altíssimo. Outros países da antiga Iugoslávia, como a Eslovênia, já são membros da UE, enquanto que nós continuamos marginalizados, fixados na discussão nacionalista ¿ diz Mira Ivanovic, de 21 anos, estudante da Universidade de Belgrado.