Título: Hora de cobrar a fatura
Autor: Gripp, Alan e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 21/01/2007, O País, p. 3

Parceiros do PT disputam ministérios e cargos que vão movimentar os R$76 bi do Orçamento

Pkern 0.3pt

Apesar do tamanho da máquina administrativa, com mais de cinco mil cargos de confiança que podem ser preenchidos por indicações políticas, o apetite dos aliados vai ter de ser moderado. Dos 35 ministérios cobiçados, apenas 14 deverão entrar na mesa de negociações. Desses, alguns são pretendidos por três partidos diferentes, como Agricultura e Cidades. As demais pastas ou são da cota pessoal do presidente, em áreas financeiras ou técnicas, ou não terão troca-troca porque foram aprovadas por Lula, como a Casa Civil, Fazenda, Cultura e Combate à Fome.

As vagas mais cobiçadas são de ministérios e estatais com maior orçamento para novos projetos e, conseqüentemente, maior potencial de visibilidade eleitoral. A lista inclui os sempre disputados ministérios da Saúde e Transportes, mas traz novidades, como os ministérios da Integração Nacional e das Cidades. Este último, que tinha importância política estratégica por causa das políticas destinadas aos municípios, passou a ter mais valor diante da decisão do presidente de priorizar investimentos em habitação e saneamento, dois dos principais projetos previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que será lançado amanhã.

Parceiro preferencial neste segundo mandato de Lula, o PMDB quer uma fatia maior do bolo. Desde que aceitou integrar a coalizão, o presidente e os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil) recebem cobranças por uma maior participação no governo ¿ atualmente estimada em 20% dos cinco mil cargos de confiança. Os peemedebistas pedem alto: querem nada menos que seis ministérios (têm três atualmente), secretarias-executivas, presidências de estatais e diretorias dessas empresas, cargos com muita exposição e, de quebra, salários médios de R$15 mil.

PMDB quer diretoria ¿que fura poço e acha petróleo¿

O PMDB quer manter os ministérios da Saúde, das Comunicações e de Minas e Energia, e ganhar o comando de outras pastas-chave, como a das Cidades, Integração Nacional e Transportes. Também briga por estrelas da administração indireta, como o BNDES, a Infraero, Furnas, Eletrobrás. A Petrobras não sofrerá mudanças ¿ Lula avisou que manterá o petista Sérgio Gabrielli. O PMDB brigará por diretorias, como a de Exploração e Produção, eternizada pelo ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti como ¿a que fura poço e acha petróleo¿.

¿ O PMDB quer manter os ministérios que tem e aumentar sua participação para seis pastas ¿ diz, sem meias-palavras, o líder do partido na Câmara, Wilson Santiago (PB).

O PT, porém, não quer esperar as sobras sentado. A executiva nacional do partido pediu às executivas estaduais que encaminhem os nomes de petistas que ocupam cargos no Executivo e a avaliação do trabalho que desenvolveram. O PT também tem recebido informações dos estados nos quais dirigentes dizem que alguns cargos federais ainda são ocupados por ¿inimigos¿, remanescentes do governo Fernando Henrique.

Na reunião com Lula no fim do ano, o partido disse que gostaria de manter algumas pastas sociais, como Educação, mas demonstrou interesse também pelo Ministério das Comunicações, hoje em poder do PMDB, além da pasta de Cidades, sob comando do PP. A disputa entre PT e PMDB se dá em várias frentes. Os dois partidos têm interesses comuns na Petrobras, Saúde, Educação, Cidades, Infraero, Minas e Energia, Meio Ambiente e Previdência Social.

PP, PR e PTB, que integram a coalizão mas têm bancadas menores no Congresso, sabem que terão direito a uma fatia menor do bolo, mas isso não reduz seu apetite. O PP, que domina o Ministério das Cidades, tem olho comprido para a Agricultura. O PR quer de volta os Transportes. E o PTB, que tem o Turismo, uma das pastas com menor orçamento, quer a Agricultura.

Por enquanto, o sonho de poder dos partidos é apenas miragem. Somente depois de 1º de fevereiro é que saberão se o que vislumbravam era areia ou mina de ouro. O presidente tem se mantido fechado sobre a montagem de sua equipe e nem aos seus mais diretos colaboradores tem compartilhado suas pretensões.