Título: Processo eleitoral expõe interesses corporativos e pessoais de deputados
Autor: Lamego, Cláudia
Fonte: O Globo, 21/01/2007, O País, p. 4

Para especialistas, credibilidade e função democrática da instituição está em jogo

A independência em relação ao Executivo, o resgate da credibilidade da instituição ¿ desgastada pelos fantasmas das crises do mensalão e dos sanguessugas ¿ e a própria afirmação de sua função primordial, a de fazer e fiscalizar a aplicação das leis. Para especialistas, esses são temas que deveriam estar em jogo na eleição para o novo presidente da Câmara dos Deputados. Deveriam. Segundo eles, o processo eleitoral, em vez disso, está expondo muito mais os interesses corporativos, projetos políticos pessoais e o fisiologismo que ainda marca a relação do Parlamento com a Presidência da República.

Maria Celina Soares D¿Araujo, cientista política do CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas, considera que as candidaturas de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) não têm diferença.

¿ Os dois são da base do governo, concordam em aumentar as benesses dos parlamentares. Basicamente, até o momento o que a gente observa é um movimento corporativo da Câmara, no sentido de melhorar condições salariais. Também querem exercitar seus projetos de poder. Não se vê um movimento mais sério, uma mudança do padrão e da imagem do Legislativo.

Anúncio do ministério é adiado e mostra barganha

Para o professor da Unicamp Roberto Romano, especialista em ética política, o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter adiado o anúncio do novo ministério mostra que a eleição na Câmara está sendo usada na barganha política de cargos.

¿ Isso não é nada correto, do ponto de vista da relação de paridade entre os Poderes. Espera-se uma relação de favores, de predileção. Mas o Executivo precisa ter boas relações com o presidente da Câmara, para ter acolhidos os projetos polêmicos do governo, como as reformas tributária e a nova previdenciária. Está em jogo também a discussão sobre o orçamento, o contingenciamento de recursos para os estados ¿ lembra o professor da Unicamp.

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