Título: Déficit no caixa gera medidas impopulares
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 21/01/2007, O País, p. 8

Governadores encontram caos na administração, rombos nas contas e são obrigados a fazer cortes e demissões

BRASÍLIA. Alguns governadores de primeira viagem, que assumiram no início do mês, não imaginavam o que teriam pela frente: rombos em caixa e o caos administrativo herdado dos antecessores os obrigam a tomar medidas impopulares já no começo de seus mandatos. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que governadores de quase todos os estados onde houve mudança na administração têm tido problemas, sejam governos do PFL ou do PT, passando pelo PSDB, PMDB e PSB.

A tucana Yeda Crusius assumiu o Rio Grande do Sul com séria crise financeira. Mas há casos inusitados, como o de Sergipe, onde o governador petista Marcelo Déda teve que rebaixar altos salários dos executivos da diretoria do Parque Tecnológico do estado, o Sergipe Tec, que recebiam até R$21 mil. Segundo Déda, o órgão foi criado pelo seu antecessor, João Alves (PFL), com o objetivo de empregar o hoje deputado federal eleito Alceni Guerra (PFL-PR). Ele recebia salário de R$21 mil, fora passagens e auxílio-moradia de R$1.500. Os demais diretores recebiam R$18 mil mensais, totalizando gasto de R$66 mil só com a diretoria.

Economia no DF com carros será de R$17 milhões

Déda reduziu os salários. O presidente da estatal passou a receber R$9 mil e os demais diretores, R$7 mil. Depois de analisar todas as informações sobre o parque tecnológico, Déda descobriu que o Sergipe Tec não é um órgão público, mas uma organização social. Mas a única fonte de renda do órgão são os recursos do governo estadual.

¿ Agora sei a tecnologia produzida pelo parque: altos salários e pouco trabalho. Tenho certeza que existem grandes executivos com enorme talento. Mas estes salários estão fora da realidade local ¿ disse Déda.

O rombo financeiro passou a ser regra na maioria dos estados. No Distrito Federal, o governador José Roberto Arruda (PFL) encontrou déficit de aproximadamente R$400 milhões. Para cobrir o buraco, conta que não teve alternativa a não ser cortar os supérfluos.

Ele devolveu todos os imóveis alugados pelo governo, que custavam R$30 milhões ao ano. Isso o obrigou a transferir a sede do governo para Taguatinga, maior cidade-satélite do DF, onde mantém um gabinete conjunto com o secretariado. Semana passada, Arruda devolveu metade dos carros alugados pelo governo: 549, sendo que só à disposição do Palácio do Buriti havia 52, inclusive uma blazer, alugada por R$1,5 milhão por ano. A economia total será de R$17 milhões por ano.

Arruda exonerou 17 mil ocupantes de cargos comissionados, 70 deles lotados no gabinete do governador. Determinou a demissão de nove mil funcionários sem concurso contratados pelo antigo Instituto Candango de Solidariedade. Quer reduzir à metade esse número de cargos comissionados.