Título: Aldeia antiglobalização se encontra no Quência
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 21/01/2007, Economia, p. 33

Pela primeira vez realizado na África, Fórum Social Mundial discute Aids, guerras e migração no continente

NAIRÓBI, Quênia. Uma aldeia antiglobalização começa a tomar as ruas de Nairóbi, no Quênia, em torno do Fórum Social Mundial (FSM). Na abertura do encontro, cerca de 10 mil pessoas (na estimativa dos organizadores) fizeram uma grande caminhada em Kibera, bairro pobre que dá nome à maior favela da capital queniana. Organizado pela primeira vez no continente africano, desde sua criação, em 2001, em Porto Alegre, o Fórum Social deve receber 80 mil pessoas em sua sétima edição, que começou ontem e vai até o dia 25.

O encontro terá um perfil bem diferente do realizado em Caracas, na Venezuela, no ano passado, quando a questão central foi a política latino-americana. A Aids, as guerras no continente africano e as migrações estarão no centro das discussões na grande arena montada para o fórum ¿ o centro esportivo Moi International Sports Centre, a 17 quilômetros do Centro da Nairóbi.

A cor brasileira aparecerá logo na inauguração: o cantor Martinho da Vila faria o show de abertura, depois da caminhada. Estão previstas mais de 1.200 atividades. As discussões se darão em torno de nove eixos, decididos por meio de consulta aos participantes dos fóruns anteriores. As discussões se darão em torno de 14 temas principais: Dívida; Memória das lutas; Paz e conflito; Comércio; Mulheres; Conhecimento e informação; Meio ambiente global; Habitação; Soberania dos povos; Migrações; Trabalho; HIV/Aids; e Privatização dos bens comuns.

Do Brasil, segundo o empresário Oded Grajew, um dos idealizadores do fórum, devem participar cerca de duas mil pessoas. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, representará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estará em Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial. A comitiva de autoridades brasileiras terá cerca de 40 pessoas. Em Porto Alegre, cidade que sediou o evento nas três primeiras edições, a presença do Brasil chegou a 80%. Nessa edição, a Petrobras financiará o Espaço Brasil, uma área de 200 metros quadrados.

¿ Tivemos a idéia de fazer o primeiro fórum para mostrar que existem alternativas. É um encontro da sociedade civil e não de governos ¿ disse Oded.

Sede do fórum também servirá de alojamento

A organização do fórum escolheu o quarto dia para dar um sentido concreto ao encontro. Assembléias entre integrantes de todos os segmentos e fóruns terão a missão de apresentar propostas de ações, baseadas nas conclusões a que o fórum chegou. O lema será ¿Lutas dos povos, alternativas dos povos¿.

Tribos de todas as partes do mundo se movimentam para chegar ao Quênia. Um acampamento internacional foi montado no estádio. Entre os intelectuais, espera-se a presença do paquistanês Tariq Ali, autor, entre outros, do livro ¿Bush na Babilônia: a Recolonização do Iraque¿; e os diretores do jornal ¿Le Monde Diplomatique¿ e fundadores do fórum, Bernard Cassen e Ignacio Ramonet.