Título: Metas de novato na política tidas como mistério
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 25/01/2007, O Mundo, p. 37

BUENOS AIRES. Forte aliado do venezuelano Hugo Chávez, o novo presidente do Equador, Rafael Correa, ainda é considerado uma grande incógnita por analistas locais e internacionais. Em seus primeiros dias de governo, ele confirmou sua decisão de convocar uma Assembléia Constituinte, até o momento a medida mais importante do plano de governo em matéria política. No que diz respeito ao novo modelo econômico, Correa parece disposto a avançar na renegociação de contratos com empresas privadas e na reestruturação da dívida pública do país, seguindo o exemplo do presidente argentino, Néstor Kirchner, que se mostrou plenamente disposto a assessorar o novo governo equatoriano.

¿ Grande parte da dívida é ilegítima e prejudica o crescimento do país ¿ afirmou o ministro da Economia, Ricardo Patino, em recente reunião com credores da dívida equatoriana.

O objetivo do governo de Correa é utilizar recursos que hoje são destinados ao pagamento dos serviços da dívida para financiar programas de saúde e educação. Atualmente, estima-se que 45% do gasto público equatoriano são serviços da dívida.

¿ Nenhum país pode se desenvolver nessas condições ¿ enfatizou o ministro da Economia.

Os cinco principais pontos do plano de governo de Correa são: revolução institucional, guerra à corrupção, novo modelo econômico, maior apoio a saúde e educação e fortalecimento da integração latino-americana. A chamada ¿revolução constitucional¿ prevê a convocação de uma Assembléia Constituinte com plenos poderes para ¿superar o bloqueio político e social em que está mergulhado o Equador¿, segundo Correa.

Na visão de analistas locais, o projeto já despertou algumas suspeitas.

¿ Correa quer convocar uma assembléia que será controlada, em grande medida, pelos mesmos partidos que integram o Congresso, totalmente opositor. Pelas normas já divulgadas, os movimentos sociais terão sérias dificuldades para eleger membros da assembléia, portanto, não estamos entendendo bem este processo ¿ afirmou o analista Juan Fernando Salazar, colunista do jornal ¿El Comércio¿.

Segundo ele, ¿existem sérias dúvidas sobre a real disposição de Correa de liderar drásticas mudanças no sistema político, tradicionalmente questionado por suspeitas de corrupção¿.

¿ A revolução de Correa poderia terminar sendo apenas poética. Temos de esperar para ver o que vai acontecer ¿ assegurou o analista equatoriano.

O novo modelo econômico, declarou Correa, prevê ¿mais do que libertar os mercados¿. Segundo ele, deve ¿libertar o país dos poderosos interesses nacionais e internacionais que o dominam, defendendo uma opção preferencial pelos pobres¿.

¿ Em matéria econômica, o governo de Correa é um mistério. O presidente disse que vai manter a dolarização, mas, nos últimos dias, circularam rumores sobre a aplicação de um sistema bimonetário ¿ comentou Salazar. ¿ Não podemos esquecer que há dois anos Correa era um professor universitário desconhecido. Nunca passou por sua cabeça ser presidente ¿ disse o analista. (J.F.)