Título: Um poder cada vez mais hegemônico
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 25/01/2007, O Mundo, p. 37

BUENOS AIRES. Após assumir um novo mandato como presidente da Venezuela, Hugo Chávez referiu-se a si mesmo como trotskista, pois disse defender a ¿revolução permanente¿. Com um poder cada vez mais hegemônico, o presidente deixou claro que seu governo pretende ser cada vez mais presente em todos os âmbitos da sociedade. Ele anunciou a decisão de utilizar a polêmica Lei Habilitante, que permitirá ao Executivo governar por decreto por 18 meses, para ¿transformar o Estado, a participação popular, o exercício da função pública, a segurança cidadã e jurídica, a ordem territorial, a segurança e a defesa nacional, a infra-estrutura, o transporte e serviços econômicos, financeiros, tributários e científicos¿.

Ou seja, Chávez pretende aplicar mudanças que poderiam alterar praticamente todos os setores políticos, econômicos e sociais. Até onde vai chegar a reforma chavista é uma incógnita que nem mesmo seus aliados se atrevem a revelar. A única pista foi suficiente para provocar um clima de forte nervosismo entre empresários e investidores: Chávez anunciou a estatização do serviço de energia elétrica de Caracas, da Companhia Anônima Nacional de Telefones da Venezuela (CANTV) e de etapas da exploração de petróleo na Bacia do Orinoco. Paralelamente, voltou a fechar o cerco aos meios de comunicação não aliados ao governo com a decisão de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), um dos canais mais antigos do país.

¿ O que parecia uma utopia quando Chávez assumiu o poder está se tornando realidade. O controle exercido pelo presidente está superando a esfera estatal. Chávez pretende ser dono de tudo e de todos ¿ afirmou ao GLOBO o analista Roberto Giusti, colunista do jornal ¿El Universal¿ e do canal de TV Globovisión, ambos opositores ao governo.

Além de liderar uma onda de estatizações e redobrar as pressões aos meios de comunicação privados, o presidente poderia usar a anunciada reforma da Constituição de 1999 para perpetuar-se no poder, já que uma das inovações no novo texto constitucional seria a reeleição indefinida.

¿ A reforma da Constituição é um grande mistério, não sabemos qual será a verdadeira dimensão dessa medida. Com a Lei Habilitante, Chávez tem o caminho livre para modificar totalmente o status quo atual ¿ assegurou o analista.

Um dos pilares desta nova fase da ¿revolução bolivariana¿, segundo Chávez, serão os poderes populares e a nova geometria do poder.

¿ O governo pretende mudar a lei que regula o funcionamento dos conselhos comunais para dar-lhes mais poder. A questão é saber até onde chegará esse poder. Alguns acham que o objetivo é os conselhos substituírem as prefeituras e os governos estaduais ¿ disse Giusti.

Chávez quer implementar um sistema socialista na Venezuela. O problema é que, segundo pesquisas de empresas de consultoria locais, a grande maioria dos venezuelanos rechaça o socialismo.

¿ A maioria das pessoas prefere que o presidente se dedique a resolver o problema do desemprego, da pobreza e da corrupção. O socialismo não é uma prioridade para os venezuelanos ¿ explicou o analista Oscar Schémel, diretor da Hinterlaces. (J.F.)