Título: Coalizão e PAC
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 22/01/2007, O Globo, p. 2

O governo Lula pretende transformar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que será anunciado hoje, na plataforma política da Coalizão. Se a eleição para a presidência da Câmara divide a base governista, o PAC funcionaria como um ponto de convergência para os aliados. As medidas do programa são um desdobramento da agenda mínima que integrou o PMDB à base.

A expectativa do governo é de que, no dia seguinte ao anúncio, o PAC não só terá uma cara como unirá os partidos aliados. Quando o Congresso começar a discutir as medidas do programa, que terão de ser aprovadas no Legislativo, as eleições para as Mesas do Congresso já terão ocorrido. Será o momento de reunificar a base aliada em torno da bandeira do crescimento.

- O que dá substância à Coalizão não são as eleições para a presidência da Câmara. Não faz diferença para o governo quem seja eleito: Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ou Arlindo Chinaglia (PT-SP). O que dá fundamento ao governo de Coalizão é o PAC - afirma o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

A votação dessas medidas no Congresso não será tarefa simples. O governo terá de negociar. Há muitas questões polêmicas, como a do uso de recursos do FGTS para implantar um fundo de investimento em obras de infra-estrutura. O governo também terá de negociar concessões e compensações em favor dos estados, para que as finanças destes não sejam comprometidas por medidas de desoneração tributária. Mas, do ponto de vista político, o clima não será de confronto. Até mesmo a oposição, dizem alguns de seus líderes, ao divergir de aspectos do programa, não pode passar à sociedade a imagem de que é contra medidas que pretendem estimular o crescimento.

O presidente Lula, com o PAC, pretende não apenas unir sua base - e por isso reúne presidentes dos partidos aliados antes de anunciá-lo -, mas também criar um ambiente de trégua política e de retomada do diálogo institucional, ao encontrar-se logo a seguir com os governadores. Depois de dois anos de confronto, deflagrado pela denúncia do mensalão (em 2005) e potencializado nas eleições presidenciais, o presidente Lula acredita que pode unir o país em torno de uma causa comum: o crescimento. Para isso, conta com a divisão da oposição e com a conflagração no PSDB.