Título: Homem contraditório, em bom português
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/01/2007, O País, p. 3

BRASÍLIA. O atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), é um político de sorte. Mesmo sendo de um partido minúsculo, chegou ao cargo como a solução da base governista para superar a crise política decorrente da renúncia de Severino Cavalcanti (PP-PE), abatido em pleno vôo pelo escândalo do mensalinho. Também é um Homem de contradições. Em 16 meses no cargo, conseguiu reduzir o recesso parlamentar de três meses para 45 dias e acabar com o pagamento da convocação extraordinária, mas, levado pelos demais líderes, avalizou o aumento de 91% dos subsídios dos parlamentares, no fim do ano passado.

No comando da Câmara, adotou medidas moralizadoras, como o corte dos cargos de confiança e a limitação do uso da verba indenizatória para cobrir despesas de combustíveis. Mas, mesmo depois de se mudar para a residência oficial da Câmara, manteve o apartamento funcional, alegando que não tinha espaço para levar objetos pessoais e livros. Acabou entregando o apartamento.

Outras contradições: o comunista freqüenta missas e tem apoio do PFL na disputa pela presidência da Câmara. Reservado e discreto, gosta de forró, mas não sabe dançar. Também aprecia repentes - versos rimados cantados ou declamados de improviso - e chegou a participar de concursos quando ainda vivia no Nordeste. É um aficionado por futebol e costuma acompanhar os jogos do Palmeiras no estádio ou pela imprensa.

Filho de um vaqueiro e de uma professora, Aldo tomou gosto pela política quando ainda morava na fazenda de Teotonio Vilela, em Viçosa, interior de Alagoas, e uma prima foi se esconder lá da perseguição da ditadura militar. Foi ela quem apresentou a Aldo os primeiros livros sobre comunismo. Já em São Paulo, onde cursou direito, começou a militar no movimento estudantil, chegando à presidência da UNE.

Em 1989 foi eleito vereador em São Paulo. Dois anos depois, chegou à Câmara Federal, onde exerce o quarto mandato, sempre pelo PCdoB, partido ao qual se filiou em 1985. Em sua trajetória política, Aldo sempre adotou uma postura nacionalista. É dele o projeto para proibir o uso de palavras estrangeiras no país, por considerar o português o símbolo da unidade brasileira. Também quer misturar farinha de mandioca à farinha de trigo na fabricação do pão francês e instituir o Dia do Saci, em 31 de outubro, para desbancar o Halloween, ou "Ralouin", forma aportuguesada, como está na página do deputado na internet.

Aldo é profundo conhecedor da História do Brasil e costuma fazer referências a fatos do passado político do país para explicar episódios atuais. Nas férias, é comum levar a família - a mulher, Rita, e o filho, Pedro - para roteiros históricos, como o palco da Guerra de Canudos ou da Revolução Farroupilha. (Luiza Damé)