Título: Chegou por último e quer rir melhor
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/01/2007, O País, p. 3

BRASÍLIA. Na última terça-feira, ele estava de malas prontas para conhecer os Lençóis Maranhenses quando foi convencido, por um grupo suprapartidário, a aceitar o desafio de ser o candidato alternativo numa acirrada disputa pela presidência da Câmara. Menos de 24 horas depois, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) já havia conseguido o que parecia impossível: unificou seu partido, que recuou do apoio prometido ao petista Arlindo Chinaglia (SP), e agora busca o apoio de entidades da sociedade civil. Amigos mais próximos e assessores destacam que estes são alguns dos traços mais marcantes de sua personalidade: determinação e seriedade em tudo que faz.

Prestes a assumir o terceiro mandato de deputado, Fruet começou pelo PMDB, como vereador. No meio desse mandato assumiu a candidatura do pai, Maurício Fruet, constituinte e peemedebista histórico, que morreu 40 dias antes da eleição para deputado federal em 1998. Dar continuidade à trajetória política do pai, ex-prefeito de Curitiba, foi uma missão que mexeu não só com ele, mas também com sua mãe, dona Ivete. Em defesa do filho, Chegou a expulsar de casa o governador do Paraná, Roberto Requião, que não apoiou a pré-candidatura de Fruet para a prefeitura da capital em 2003.

Em 2005, Fruet se filiou ao PSDB, onde ganhou notoriedade ano passado ao assumir uma sub-relatoria da CPI dos Correios. Sua tarefa era identificar a fonte de recursos e os beneficiários do escândalo do mensalão. Foi essa elogiada atuação na CPI e no Conselho de Ética da Câmara, como relator do processo de cassação do ex-deputado André Luiz, que o credenciou para encarnar agora uma candidatura que tem como meta recuperar a imagem da instituição. E mais: ser um contraponto a Arlindo Chinaglia, carimbado como o candidato do mensalão, e o atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-ministro do governo Lula.

Discreto, sereno e autor de frases espirituosas, Fruet procura dosar a seriedade com que costuma atuar dentro do Congresso com o bom humor. Segundo ele, outra herança deixada pelo pai:

- Essa era uma qualidade de meu pai: sem bom humor, a gente fica muito ranzinza.

Sua página na internet reflete bem isso, e dá destaque a uma receita de família: carneiro afrodisíaco. Embaixo da receita, Fruet faz um alerta sobre as contra-indicações do prato. Conta a história de um indiano que experimentou o pernil aos 98 anos e morreu nove anos depois, deixando, além de netos e bisnetos, 16 filhos com idades entre 1 e 6 anos. Aos 43 anos, Fruet é solteiro, mas por pouco tempo. No fim do ano passado, pediu em casamento a namorada, Márcia.

- A data será marcada depois que for eleito presidente da Câmara - promete.

O deputado chama a atenção pela dificuldade de usar paletó. Assessores torcem para que o chefe, eleito presidente, acabe com a ditadura dos ternos dentro do Congresso.

- Então está combinado, meu primeiro ato será abolir o terno na Câmara. Assim como as mulheres já queimaram seus sutiãs, nós agora vamos queimar nossas gravatas - brinca.