Título: Lula reduz o espaço do PT
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/01/2007, O País, p. 3

Presidente decide não ceder às pressões do partido por vagas na reforma ministerial

o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que não ampliará a participação do PT no governo, seja qual for o resultado da disputa para a eleição da Câmara. Em recente conversa com um interlocutor petista, Lula avisou: não pretende abrir novos espaços para indicações de petistas, como no primeiro mandato. As nomeações de quadros do PT deverão ser muito mais de sua cota pessoal do que indicações de líderes para representar tendências e grupos do partido.

Lula resolveu aproveitar a disposição do PT de lançar a candidatura do líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), de forma autônoma para se livrar das pressões do partido na reforma ministerial. Em relato feito em seu gabinete para explicar a decisão, semana passada, de ficar neutro na disputa, Lula mostrou-se convencido de que, se tivesse "tratorado" o partido para retirar a candidatura de Chinaglia em dezembro, teria que oferecer boa compensação. o que, nas palavras do presidente, deixaria-o refém do PT. Para Lula, o custo seria alto, principalmente, porque sua estratégia é de ficar mais livre da influência do PT em seu segundo mandato.

- Enquadrar o PT na disputa pela Câmara aumentaria tremendamente a conta da reforma ministerial - desabafou o presidente a um petista.

Por esse relato, a intenção de Lula era mesmo apoiar a reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Chegou a manifestar esse desejo para vários integrantes do PT. Esperava que seu recado fosse compreendido. Mas acabou atropelado pela articulação do partido, principalmente do núcleo paulista.

Lula está consciente de que esse núcleo tenta usar a candidatura de Chinaglia para pressioná-lo. Vai além: diz, de forma clara, que o grupo comandado pelo deputado cassado e ex-ministro José Dirceu tenta recuperar espaço e poder sobre o seu governo por meio da disputa na Câmara.

Ao perceber a estratégia do grupo de Dirceu, Lula está disposto a isolar esse grupo seja qual for o resultado na Câmara. Em caso de vitória de Chinaglia, o presidente acredita que não terá mais compromisso partidário algum com o PT, pois teria feito o seu papel ao não interferir na disputa.

Sem influência do resultado na Câmara

No outro cenário, o presidente está consciente de que não tem obrigação alguma em compensar o PT, porque não assumiu compromisso com o partido. Para Lula, o PT deu sua grande cartada ao lançar Chinaglia sem consultá-lo. Assim, avalia, perdeu força de negociar a reforma ministerial.

- o presidente vai discutir com os partidos os espaços no segundo governo. Mas se engana quem pensa que vai aceitar pressão para condicionar o resultado da Câmara à reforma - advertiu o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos.

No fim da semana passada, Lula já dava sinais de preocupação com a candidatura do tucano Gustavo Fruet (PR). A avaliação feita no Palácio do Planalto é que isso pode acirrar ainda mais a disputa na base aliada.

Por outro lado, o lançamento do nome de Fruet acabou funcionando como uma solução para o PSDB, que viveu dias de crise após o anúncio do apoio a Chinaglia. Amanhã, o partido deve selar a unidade em torno da candidatura do deputado paranaense.

A busca pelo consenso deve quebrar hoje a última resistência no ninho tucano. o governador Aécio Neves (PSDB-MG) deve reunir a bancada de sete deputados para fechar o apoio a Fruet. o deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) foi o que mais insistiu no acordo com o PT para garantir a vice-presidência. Mas ontem Aécio foi claro no tom de entendimento do partido.

- A candidatura de Fruet foi fundamental. Todo indicativo é de que devemos apoiá-lo. Isso nos ajuda a sair de uma armadilha - disse, em referência ao acordo anterior com o PT.

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