Título: Um pouco menos de ousadia
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/01/2007, Economia, p. 15

Programa terá investimentos de R$500 bi até 2010. Para Lula, foi o "possível"

Na véspera do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o pacote para destravar a economia foi o "possível", diante das dificuldades de contemplar as diferentes expectativas dentro do governo. Mesmo assim, segundo fontes ligadas ao governo, há previsão de investimentos de quase R$500 bilhões, incluindo o aporte da administração direta e de estatais em infra-estrutura até 2010. Será possível Um crescimento adicional de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), mas não há garantia de que, já em 2007, a expansão da economia chegue a 5%.

Lula, no entanto, deve demonstrar otimismo e confiança nas propostas. Mas tem dito de forma reservada que esperava mais. Por isso, em dezembro, adiou por Um mês o anúncio do PAC, quando chegou a pedir ousadia da equipe econômica. Durante o fim de semana, Lula convidou vários políticos e representantes do setor empresarial por telefone para o lançamento do PAC, hoje, em Brasília.

- Fomos no limite do que era possível. Mas pelo menos vamos ter Uma base para iniciar o crescimento - teria dito Lula a Um governador aliado, durante o fim de semana.

Limite de gastos com funcionalismo

Mas alguns pontos ficaram de fora do programa. A redução de impostos, que chegou a ser estimada em R$12 bilhões, deve ficar bem abaixo disso (R$6 bilhões). Também não foi incluída a desoneração da folha salarial do setor privado, Uma reivindicação dos empresários. Em compensação, o governo incluiu no PAC Uma cláusula para limitar as despesas com funcionalismo público à variação da inflação mais 1,5% do PIB ao ano.

As contas da Previdência continuam sem Uma solução, mas o governo decidiu criar Um fórUm nacional para debater a questão. Para os servidores públicos, a idéia é criar Um regime de previdência complementar. A redução da dívida líquida do setor público em proporção do PIB também está prevista e deve agradar ao mercado financeiro. Mas o governo poderá reduzir seu esforço fiscal, fazendo Um superávit primário de 3,75% do PIB - em vez de 4,25% - para ampliar os investimentos públicos.

Nas últimas semanas, enquanto assessores da Fazenda e do Planejamento insistiam nUma estratégia de controle maior do gasto público, a Casa Civil, da ministra Dilma Rousseff, buscava ampliar investimentos. O destaque maior é o setor de energia.

Lula convocou todos os governadores para anunciar o programa, nUm gesto político de unidade em torno de Um objetivo comUm.

- O presidente teve o cuidado de garantir que os estados não seriam afetados. Pelo contrário. Destacou que o país teria mais investimentos. Mas Lula não vendeu otimismo exagerado. Nossa presença no lançamento do programa demonstra que vamos fazer oposição civilizada - disse o governador Aécio Neves (PSDB-MG).

COLABORARAM Demétrio Weber e Martha Beck