Título: Primeiro ato
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 23/01/2007, O Globo, p. 2

O segundo mandato do presidente Lula começou ontem, com o anúncio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). A festa teve o mérito de colocar na mesma mesa os governadores e, por um momento, demonstrar que é possível unir forças em torno de interesses comuns. A presença dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) sinaliza que a oposição está aberta ao diálogo.

O presidente Lula se envolveu pessoalmente na operação política para trazer os governadores. Os temores de que o segundo mandato seria uma guerra política interminável estão se dissipando. A oposição parece inclinada a dar uma trégua ao governo. Foi esse o clima do almoço oferecido pelo governador José Roberto Arruda (DF).

¿ O clima é de colaboração. Nós nos reunimos com o presidente para ouvi-lo. No próximo encontro os governadores querem falar ¿ resumiu Arruda.

O programa foi concebido para assegurar a paz com a base social do governo Lula: política generosa para o salário mínimo, aumento para os funcionários públicos e criação de um conselhão para empurrar para a frente a reforma da Previdência. O programa não prevê qualquer ajuste nos gastos correntes, como recomendam muitos economistas, e faz seu alicerce na onda favorável do mercado financeiro internacional.

¿ O programa foi concebido a partir da constatação de que há uma elevada oferta de dinheiro no mercado internacional e de que os mercados projetam uma redução forte nas taxas de juros no Brasil nos próximos dois anos. Este cenário internacional vem melhorando desde 2002, mas só agora essa onda está chegando ao Brasil ¿ resume o economista Raul Velloso.

Mesmo com o cenário externo positivo e com um programa que cria condições para crescer, diz Velloso, isso não se dará de forma compulsória. Para que o governo Lula atinja a meta de crescimento, de 5% do PIB ao ano, é preciso que a iniciativa privada acredite e, a exemplo do setor público, também amplie o investimento. Mas, para que isso ocorra, o governo precisa fazer a sua parte, realizar os investimentos públicos previstos. A gestão, como reconhecem políticos governistas, é uma das fragilidades do governo Lula. O próprio presidente sabe que precisa mudar no segundo mandato. Seu próximo passo, relatou um ministro, é dar um aperto gerencial. Isso será feito na reforma ministerial e na ampla substituição nos cargos de segundo escalão.