Título: CPI do Metrô divide a Assembléia paulista
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 23/01/2007, O País, p. 8

Petistas tentam abrir investigação na frente de 60 pedidos anteriores, enquanto tucanos propõem comissão simples

SÃO PAULO. Começou nos corredores da Assembléia Legislativa de São Paulo uma queda-de-braço para a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Metrô. Hoje, durante reunião de líderes dos partidos, os petistas tentam negociar com os partidos uma medida de consenso para que a CPI fure a fila da votação de cerca de 60 pedidos emperrados na gaveta do presidente da Assembléia, Rodrigo Garcia (PFL).

Do outro lado da briga, os tucanos propõem uma comissão de representação, com todos os partidos, para acompanhar o caso do desabamento das obras no metrô. O desastre resultou na morte de pelo menos seis pessoas e na interdição de mais de 50 casas.

Além de ter um peso político muito menor, a comissão proposta pelos tucanos tem entraves práticos em relação à CPI. Só tem poder de convocar envolvidos que sejam funcionários públicos. Aí excluem-se, por exemplo, as empreiteiras do Consórcio Via Amarela, responsável pela obra.

¿ Com certeza, é um jeito de jogar um balde de água fria. Mesmo que se abra a CPI daqui um mês, fica mais tranqüilo para eles (governo), porque passa o calor do caso ¿ reclamou o líder da bancada do PT, o deputado Enio Tatto.

Tucanos reclamam de uso político do acidente

O PSDB também reclama, e afirma que os petistas querem fazer uso político do acidente. E que devem-se esperar os resultados dos laudos técnicos para que a Assembléia se posicione.

¿ O PT quer dar uma conotação política ao caso. Mas está meio isolado, tudo caminha para formar a comissão de representação ¿ diz o líder do governo na Assembléia, o tucano Edson Aparecido.

Deputados petistas admitem que será muito difícil, na reunião de hoje, conseguir o apoio dos líderes para a CPI de consenso. A alternativa é juntar 32 assinaturas dos parlamentares para entrar com o pedido comum. Até agora, foram coletadas 24, todas de PT e PCdoB. Mas o PT avalia que não deve ser difícil completar a lista. Segundo a bancada, o PDT acenou com apoio e ainda resta a ¿bancada dos descontentes¿, deputados da base aliada que se afastaram do governo no ano passado.

¿ O problema é que, se for um pedido normal, vai ter de entrar na fila para ser votada. Com o consenso, poderíamos quebrar a ordem cronológica ¿ diz o deputado petista Simão Pedro.

Petistas acionaram Ministério Público

Os petistas também tentam apertar o cerco fora da Assembléia. Ontem, a bancada entrou com uma representação junto ao Ministério Público Estadual (MPE) contra a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos e contra o Metrô. O PT quer o embargo da obra da Via Amarela. Também cobra do MPE as medidas que teriam sido tomadas desde que o partido entrou com uma ação popular contra a obra, em junho passado.

Ainda ontem, representantes das famílias dos mortos e dos proprietários das casas interditadas se reuniram com o secretário estadual de Justiça, Luiz Antonio Marrey, com o Consórcio Via Amarela e com a seguradora. Ainda não foi acertado o valor das indenizações. Ontem à noite, a reunião prosseguiria com a Defensoria Pública e os moradores, que estão alojados em hotéis da cidade. Amanhã, uma nova reunião discutirá o caso da advogada Valéria Marmit, que estava na van que foi engolida pela cratera do metrô e morreu soterrada.

A apólice do seguro tem o valor total de R$24 milhões, sendo R$20 milhões por danos materiais e o restante por danos morais.