Título: Dilma reforça imagem de gerente no governo
Autor: Barbosa, Flávia e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 23/01/2007, Economia, p. 17
Com o fim da era Palocci, ministra da Casa Civil supervisionará pacote no segundo governo Lula
BRASÍLIA. Com o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, aumentou seu poder no governo. Já conhecida como ¿gerente¿, Dilma cuidará pessoalmente do andamento de cada uma das obras previstas no PAC, sobretudo daquelas que estão dentro do capítulo de Energia. Apesar de não ser mais ministra de Minas e Energia, é sempre a Dilma que cabe apresentar os estudos sobre obras e investimentos no setor de infra-estrutura. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa claro sua relação com a ministra.
¿ Deixem a mulher trabalhar! ¿ brincou Lula, em recente encontro, em referência ao seu slogan de campanha ¿Deixa o homem trabalhar¿.
A ministra Dilma deixou claro que vai monitorar o andamento das ações, nas diferentes áreas do governo. Mesmo assim, Dilma fará parte de um Comitê Gestor do PAC, criado ontem por decreto. Farão parte do CGPAC, além de Dilma, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo. O objetivo é coordenar a implementação do PAC, obra por obra, ministério por ministério.
¿ A preocupação do governo é de delegar projetos para os sucessores em todas as áreas. Esse legado ocorre especialmente em saneamento e habitação ¿ disse Dilma, em sua longa exposição durante a cerimônia de lançamento do PAC.
Defensora de um aquecimento da economia, mesmo que fosse necessária uma redução do superávit primário, Dilma conseguiu fazer prevalecer seu ponto de vista, sobretudo o da necessidade de se realizar investimentos pesados em infra-estrutura, como em rodovias, ferrovias, portos e no setor energético. Assim, acabou decretando o fim da ¿era Palocci¿ ¿ de rigor fiscal e limitação aos investimentos públicos.
No decorrer das discussões internas do governo, o presidente Lula chegou a se irritar com a falta de ousadia das medidas e cobrou mais criatividade. A cautela ocorre, sobretudo, da parte de setores da área econômica. As resistências maiores, segundo integrantes da Casa Civil, são da Receita Federal, que sempre resiste à qualquer desoneração de impostos.
No Palácio do Planalto, causou irritação, por exemplo, as declarações do secretário-adjunto da Receita, Ricardo Pinheiro, que disse que as desonerações haviam chegado ao limite, ironizando o nome PAC, falando em ¿PIC, POC ou PUC¿.
Mas a área de ministros comandada por Dilma venceu a maior parte das batalhas. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, não tem a rigidez fiscal do antecessor Antonio Palocci.
Mas há outros setores em conflito, como o de meio ambiente. A dificuldade da obtenção das licenças ambientais é um dos principais problemas apontados pelos empreendedores.
O atual momento consagra uma ¿Era Dilma¿ e um momento bem diferente daquele vivido pelos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, que travavam verdadeiras guerras internas quando ocupavam a Casa Civil e a Fazenda, respectivamente.