Título: Mantega cobra do presidente do BC, em público, nova redução dos juros
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 23/01/2007, Economia, p. 26

Copom decide amanhã a primeira Selic do ano e pode diminuir ritmo de corte.

BRASÍLIA. A provocação feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao chamar sua atenção, durante a solenidade de anúncio do PAC, para o fato de o mercado esperar novas reduções dos juros, deixou claro que as relações entre os dois colegas de ministério continuam distantes. Enquanto apresentava projeções para indicadores econômicos, entre eles a taxa de juros, Mantega comentou em alto e bom som:

- Viu, Meirelles - O mercado espera queda dos juros.

Na platéia, Meirelles ouviu a provocação feita em tom de cobrança. Por uma coincidência, o anúncio do pacote de crescimento caiu na véspera do início da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano - data que, entretanto, estava agendada desde o ano passado. A reunião termina na quarta-feira.

O apelo de Mantega, porém, deverá ficar restrito ao constrangimento imposto ao presidente do BC. Dentro do banco, o PAC é visto como neutro na decisão do Copom desta semana, sem interferir nem para o bem nem para o mal. O Banco Central continuará a tomar sua decisão, olhando uma série de dados econômicos, considerando apenas seu impacto nos índices de inflação.

As apostas do mercado realmente são de que as taxas voltarão a cair, a exemplo do que ocorreu em todas as reuniões do Copom em 2006. A dúvida é se o BC manterá o ritmo de corte de meio ponto percentual ou reduzirá a intensidade para 0,25. A suspeita de parte do mercado de que, já na reunião desta semana, o BC diminua a velocidade de corte dos juros, não tem relação com o PAC. Segundo analistas, nas duas últimas reuniões, o Copom registrou em ata que chegou a discutir a possibilidade de reduzir menos os juros, porque o espaço para quedas mais fortes estaria se esgotando.

Apenas no fim da tarde, no BC, Meirelles comentou a provocação de Mantega e evitou polemizar com ele. Disse ter interpretado de forma positiva a cobrança pela queda dos juros:

- Encarei como uma manifestação de confiança do ministro (Mantega) na capacidade do Banco Central de entregar a inflação na meta de forma consistente e continuada.

O presidente do BC não quis comentar a previsão de Mantega de que a taxa de crescimento possa atingir 4,5% este ano. Até março, quando o Copom se reunirá novamente, está mantida a previsão parcial de 3,8%. Meirelles também não comentou a queda, na prática, da meta do superávit fiscal primário de 4,25% para 3,75% do PIB:

- Isso será discutido pelo Copom. Não vou preanunciar nada.

Ao contrário dos governadores, que se queixaram de não terem participado das discussões das medidas contidas no pacote, Meirelles disse que o BC foi convidado a expor seus pontos de vista, principalmente relacionados às medidas fiscais. Disse ainda que o PAC inaugura uma nova fase da economia brasileira:

- É um movimento extremamente positivo, na direção correta. O importante é que o Brasil começa a tomar medidas para aumentar o crescimento, enquanto, no passado, discutíamos como sair da crise.