Título: Amazônia em foco
Autor: Fortes, Márcio
Fonte: O Globo, 24/01/2007, Opinião, p. 7

Atradicional e conceituada revista ¿National Geographic¿ tem grande peso na formação da opinião pública americana. Tudo que publica reveste-se de grande importância, não só por sua qualidade editorial e visual, como pela isenção com que retrata os assuntos. A revista usualmente não imprime qualquer conotação política ou ideológica aos temas, mas mostra o que vai pelo mundo em termos de cuidados com o planeta Terra, aborda um pouco de História, muito de Geografia e seu papel é único para os fins a que se destina.

A edição de janeiro de 2007 da ¿National Geographic¿ dedica reportagem de capa à Amazônia brasileira. Sob o título ¿O que sobra da Amazônia¿, o extenso e abrangente texto, ilustrado por muitas fotos, chama a atenção para a velocidade da devastação da floresta. Isto é preocupante por vários aspectos: por enfocar a destruição da Amazônia, sem destacar sua riqueza; por atribuir a fatores econômicos o crime ambiental que diariamente lá se comete; e, nas entrelinhas, por colocar governantes brasileiros como cúmplices da atividade predatória.

A reportagem analisa superficialmente a economia brasileira sob o aspecto da demanda mundial por alguns de nossos produtos de exportação, particularmente, soja, carne bovina e madeira. Apenas quanto à madeira há importância no comércio exterior para os Estados Unidos, que hoje consomem 50% de nossa madeira exportada. Ao ligar a questão ambiental brasileira à comercial internacional, a reportagem induz, de certa forma, a opinião pública americana a entender que somos pouco capazes de administrar tão importante patrimônio.

Em paralelo, também agora em janeiro, um vistoso show no Carnegie Hall de Nova York, que estava lotado, teve por finalidade chamar a atenção do mundo para a grave questão amazônica. O artista brasileiro presente, o pianista João Carlos Martins, que executou uma peça com o título ¿Amazônia¿, ressaltou em entrevista ¿ pasmem! ¿ a ¿incompetência brasileira para tomar conta da Amazônia¿.

À reportagem e ao show somam-se tantas outras manifestações, alguma cômicas, outras apenas irresponsáveis. Conhecemos os problemas brasileiros. Sabemos quais são nossas limitações e dificuldades. Mas somos um país responsável e soberano. As autoridades brasileiras, e não só as ambientais, que fazem o melhor trabalho na Amazônia, dentro das suas possibilidades, precisam estar atentas ao problema. E agir para que a opinião pública internacional seja adequadamente informada da realidade dos fatos, sem as distorções hoje verificadas.

MÁRCIO FORTES é deputado federal (PSDB-RJ)