Título: Copom pode frear o ritmo de queda dos juros
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 24/01/2007, Economia, p. 25

Previsão de dólar estável até dezembro e limitação na queda dos preços devem determinar rumo da taxa Selic

BRASÍLIA e RIO. O cenário para este ano com o qual o Banco Central (BC) trabalha para dois grandes indicadores que ajudaram a conter a inflação em 2006 ¿ o dólar e o preço dos alimentos ¿ e permitiram uma redução mais confortável dos juros poderá ser decisivo para que o Copom opte por reduzir o ritmo da queda dos juros amanhã. O mercado não cogita a possibilidade de uma nova queda acentuada nas cotações do dólar, que deve ficar praticamente estável em 2007.

A pesquisa Focus, feita pelo BC junto ao mercado financeiro, utilizada como referência anteontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), projeta que a taxa de câmbio chegue ao fim do ano em R$2,20, ficando, na média, em R$2,18, pouco acima do R$2,133 registrado ontem.

A cotação do dólar tem influência direta sobre o comportamento de preços de vários produtos e poderá ser um dos fatores a levar o Copom a pisar um pouco no freio. Outro indicador que deverá ter peso negativo na avaliação do comitê é o preço dos alimentos. Vários produtos registraram queda acentuada no ano passado, devido a desonerações tributárias também à queda do dólar. Analistas consideram que esses ganhos já foram incorporados e seu efeito de baratear os preços já chegou ao limite.

A questão é se o Copom já vai considerar esse cenário e diminuir a intensidade da queda dos juros, reduzindo a taxa em apenas 0,25 ponto percentual já amanhã, ou se mantém o corte em 0,5 ponto e espera mais 45 dias para ver se as condições se confirmam ou se não serão compensadas por outros fatores.

Para alguns economistas, uma postura mais conservadora do Copom nos próximo meses está ligada aos gastos previstos no PAC:

¿ O BC poderia ser forçado a uma contrapartida mais contracionista caso haja uma forte expansão fiscal e parte dos gastos não seja feita com investimentos, mas sim, despesas ordinárias, como um eventual reajuste do Bolsa Família ou um aumento de gastos com o funcionalismo público ¿ avalia Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimento.

¿ O enorme ônus fiscal do pacote pode criar amarras para o Banco Central. E, diante de uma política fiscal expansionista, é esperada alguma contração pelo Copom ¿ diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real.

Emy Shayo, diretora-gerente do banco Bear Sterns, lembra que o BC sempre levou em consideração um superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Com a redução do percentual para 3,75%, a autoridade monetária poderia ser levada a rever a política atual.

Meirelles é fundamental para o PAC, diz economista

Para os economistas, as cobranças de Mantega, de nova redução dos juros, não parecem ter enfraquecido o presidente do BC, Henrique Meirelles:

¿ Não acredito que ele tenha perdido espaço com a política expansionista. O BC de Meirelles é alicerce fundamental para o sucesso do PAC e uma eventual troca no BC poderia trazer instabilidade ao mercado ¿ diz Shayo.

¿ O BC tem que continuar a conduzir a política monetária com independência. É arriscado mexer em um dos pilares mais sólidos do governo Lula ¿ concorda Utsumi.