Título: Clima: prognósticos cada vez mais pessismistas
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Fonte: O Globo, 24/01/2007, O Mundo / Ciência e Vida, p. 31

Grupo internacional de cientistas sustenta que aquecimento pode chegar a 8 graus Celsius até o fim do século

WASHINGTON. O principal grupo internacional de cientistas, ligado à ONU, a estudar as mudanças climáticas do planeta fará, esta semana, o seu mais contundente e pessimista pronunciamento sobre o tema, relacionando de forma inequívoca as emissões poluentes ao aumento global das temperaturas. O aumento poderia chegar a 8 graus Celsius até o fim do século.

O próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) sustenta que a possibilidade de o aquecimento do planeta registrado desde a década de 50 ser ocasionado pelo acúmulo de dióxido de carbono (C02) e outros gases do efeito estufa na atmosfera é extremamente alta, de 90% a 99%. A conclusão será apresentada oficialmente no dia 2.

Em seu relatório anterior, divulgado em 2001, o painel concluiu que as chances de as atividades humanas estarem contribuindo para o aquecimento variavam de 66% a 90%.

Se a versão final do relatório não for alterada, os cientistas prevêem um aquecimento de 4 a 8 graus se a concentração de CO2 na atmosfera chegar ao dobro das 280 partes por milhão ¿ a média, por muitos séculos, antes da Revolução Industrial.

A concentração atual é de 380 partes por milhão e, segundo os especialistas, será muito difícil impedir que chegue a 450 ou mesmo 550, dado o crescimento da população, o uso indiscriminado de combustíveis fósseis, a falta de alternativas não poluentes em larga escala.

¿ Há uma arma apontada diretamente para nós no momento em que falamos ¿ comparou Jerry Mahlman, um dos principais especialistas em clima dos Estados Unidos e um dos responsáveis pela revisão das 1.600 páginas do relatório.

O canadense Andrew Weaver, co-autor do documento, foi mais além:

¿ Não é arma. É um batalhão de mísseis intergalácticos.

Geleiras dos Alpes podem sumir já em 2037

A primeira etapa do trabalho, a ser apresentada em Paris, na semana que vem, foi escrita por mais de 600 cientistas e revista por outros 600 especialistas. Ao longo do ano, outras três partes do relatório serão divulgadas, a intervalos regulares.

¿ O aquecimento está acontecendo agora, é muito óbvio ¿ concluiu Mahlman.

Um outro estudo, divulgado na segunda-feira, apresentou mais evidências do contínuo derretimento das geleiras do planeta. Elaborado por especialistas da Universidade de Innsbruck, na Áustria, o estudo sustenta que as geleiras do Alpes desaparecerão até 2050. Mas, alertam, dependendo do ritmo do aquecimento, a maioria já pode ter desaparecido em 2037.