Título: Briga para ser governo até o fim
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 25/01/2007, O País, p. 3

Desejo de apoiar Lula abre crise no PTB e pode levar a debandada

O desejo de apoiar o governo Lula abriu uma crise no PTB e deve motivar a debandada de vários filiados históricos da legenda para outros partidos da base aliada. A insatisfação de parlamentares e lideranças estaduais aumentou nas últimas semanas, principalmente depois da intervenção em diretórios regionais do PTB feita pelo presidente do partido, o deputado cassado Roberto Jefferson (RJ). A linha oposicionista adotada por Jefferson tem causado enorme constrangimento na bancada do partido na Câmara, o que pode levar a uma divisão na legenda e à saída de um número expressivo de deputados rumo ao PSB e ao PR, o ex-PL.

Um grupo liderado pelo ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, colocou o mês de fevereiro como prazo limite para uma definição. A estratégia é aguardar a eleição para as presidências da Câmara e do Senado e a reforma ministerial. Há um movimento para tentar afastar Jefferson do comando do partido, mas ele tem o controle da executiva nacional. Não está descartada uma consulta formal ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a legalidade da permanência dele na presidência do PTB, já que Jefferson foi cassado no escândalo do mensalão e perdeu os direitos políticos por oito anos. Esta consulta seria feita por um parlamentar do PTB. Mas no núcleo do partido há um grande temor de enfrentar Jefferson.

Grupo de fiéis para enfrentar Jefferson

Caso ele permaneça no comando do partido, a opção concreta para esse grupo é migrar para o PSB. Mares Guia é muito próximo do deputado federal eleito e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE). Esse movimento seria seguido pelo líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), aliado da governadora Wilma Faria (PSB-RN). No fim de janeiro, os governistas do PTB devem se reunir em Brasília para definir o melhor caminho. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu sinal verde para Mares Guia mudar para o PSB. Mas o Planalto tenta evitar uma saída em massa do PTB. Quer manter um grupo de parlamentares fiéis para enfrentar Roberto Jefferson.

O mais recente constrangimento de Jefferson foi a intervenção nos diretórios de vários estados, inclusive em Minas Gerais e Rio Grande do Norte, sob influência de Mares Guia e Fernando Bezerra, respectivamente. Segundo relatos de deputados do PTB, o diretório de Pernambuco chegou a ficar na mira de Jefferson, que só recuou porque o comando do partido no estado é do influente deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), presidente da CNI. Procurado pelo GLOBO, o senador Fernando Bezerra confirmou a destituição do diretório portiguar. Ele era o presidente do PTB no estado.

- Roberto Jefferson dissolveu os diretórios estaduais do PTB, inclusive o do Rio Grande do Norte, do qual eu era presidente. Até agora, só recebi um comunicado do partido. Estou aguardando uma decisão - contou Fernando Bezerra.

Convite a Collor para a legenda

Não é de hoje que o deputado cassado Roberto Jefferson tem criado problemas para o partido. Logo depois da eleição, ele conseguiu renovar seu mandato na presidência do PTB e mudou toda a executiva do partido, inclusive o então secretário-geral da legenda, o deputado Luiz Antonio Fleury (PTB-SP). Jefferson também convidou o senador eleito de Alagoas, Fernando Collor, para entrar no PTB. Procurado ontem pelo GLOBO, o líder da bancada, deputado José Múcio Monteiro (PE), disse que desconhecia um movimento de saída em massa do PTB. Já o ministro Walfrido Mares Guia informou, por intermédio de sua assessoria, que não falaria sobre o assunto.

O PTB tem passado momentos difíceis desde o escândalo do mensalão, em 2005. Na ocasião, o partido chegou a atingir o número de 45 deputados federais e Jefferson havia iniciado uma aproximação com Lula. Mas depois das denúncias de pagamentos a deputados, feitas pelo próprio Jefferson, a legenda começou a definhar. Do total de deputados da antiga legislatura, só 15 conseguiram se reeleger pela partido, marcado pelo estigma do mensalão. O partido também elegeu mais sete novos deputados e outros dois estão entrando do PTB, o que deve somar 24 deputados federais. Mesmo assim, a bancada será apenas a metade da que foi nesta legislatura.