Título: Privatização da água na África entra em debate
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 25/01/2007, Economia, p. 32

Ativistas pedem que recurso natural seja parte da Declaração Universal dos Direitos do Homem

NAIRÓBI, Quênia. A privatização da distribuição de água na África levou a discussão sobre a apropriação do recurso natural para o centro do debate, na sétima edição do Fórum Social Mundial. Os ativistas reunidos ontem em torno do tema defenderam, entre outros pontos, que em 2008, a água seja reconhecida como parte integrante da Declaração Universal dos Direitos do Homem. A ativista Virginia Mzants, da África do Sul, afirmou que é hora de acabar com o lucro em cima da pobreza.

- Basta da privatização e do roubo dos nossos recursos naturais. Os poderosos agora vão escutar a nossa voz - afirmou Virginia, coordenadora da Rede Africana de Água, que integra as organizações africanas que trabalham contra a privatização da água no continente.

A rede, criada durante o fórum, e outras 64 organizações se mobilizaram em torno da discussão. O ativista brasileiro André Abreu, da France Liberte, afirmou que há cinco anos seria "maluquice" tratar da questão. Mas que o tema se tornou pauta prioritária depois que o relatório da PNUD, em 2003, foi dedicado à água.

- É preciso dar ao tema a mesma relevância que à saúde e à educação, com financiamentos públicos dedicados ao fornecimento de água. Por que a água é vista como mercadoria? Por que não merece financiamento? -- questionou André.

Para o sociólogo e jurista Boaventura de Sousa, professor da Universidade de Coimbra, o fato de a África ser sede do fórum, deu à discussão caráter internacional:

- Isso está entre as prioridades dos participantes do fórum. Aquilo que é mais básico no mundo, e que a gente esquece. A água e a terra são questões centrais - afirma Boaventura. (Maiá Menezes)