Título: Sem conclusões, FSM agenda mais protestos
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 25/01/2007, Economia, p. 32

Em clima antiamericanista, com gritos de apoio a Chávez, Fórum chega ao Dia D sem formular propostas de ação

NAIRÓBI, Quênia. Aos gritos de "Viva Chávez", "Viva Cuba" e "Abaixo o imperialismo e a Bush", o Fórum dos Movimentos Sociais, evento paralelo à agenda do Fórum Social Mundial, mas que usualmente encerra as discussões dos ativistas antiglobalização, emitiu ontem uma declaração de solidariedade à América Latina "por sua luta, que levou a vitórias eleitorais". Em clima antiamericanista, cerca de dois mil ativistas de todo o mundo repudiaram a guerra, promovida, segundo eles, pelos países ricos, e decidiram realizar protestos internacionais contra o encontro do G8, que acontece no ano que vem, na Alemanha.

Foi esse o tom do Dia D do Fórum Social Mundial, que previa a definição de propostas de ação. Durante toda a tarde de ontem, os participantes do encontro se reuniram em tendas espalhadas pelo Centro Esportivo Kasarani, em torno dos 21 temas considerados prioritários pelo Fórum. Todas, agora, serão agregadas em um documento único, que deverá ficar pronto até o fim da semana. As decisões, em grande parte, tratam de marcar protestos e pressionar os organismos internacionais. Não há, no entanto, posicionamento oficial do Fórum sobre temas específicos, como a Guerra do Iraque.

- Esse é o caráter do Fórum. É um espaço de debate. E essas ações são as que cabem à sociedade civil. Não sai daqui uma deliberação única, porque o Fórum não existe como entidade. É um plano de ação dos ativistas - definiu o empresário brasileiro Oded Grajew, integrante do conselho internacional do Fórum.

Ativistas pedem que os EUA mandem tropas para casa

Em um dos encontros temáticos, os ativistas decidiram marcar para a semana compreendida entre os dias 14 e 21 de outubro uma mobilização mundial em torno do tema da dívida dos países do Hemisfério Sul. Na carta final, lida pelo ativista haitiano Camille Charmers durante o Fórum de Movimentos Sociais, os ativistas afirmam que decidiram "orientar os governos a suspender o pagamento dos débitos", já que "a responsabilidade pelos débitos é de organismos internacionais".

Ao tratar do tema da guerra, os ativistas pedem que os Estados Unidos "mandem as tropas de volta para casa" e que "parem as guerras na região". Um representante da CUT leu uma nota, em que exige a "retirada das tropas da ONU no Haiti (grande parte, de brasileiros)" e afirma que "a humanidade rejeita o sistema neocolonial e o neoliberalismo".

Em relação à Saúde - que inclui o drama que a África enfrenta com o alto índice de contaminação pela Aids - os ativistas pedem a distribuição gratuita de remédios para os países africanos.

Queixa contra alto custo de acesso de quenianos ao Fórum

Uma questão local ocupou, durante o Fórum dos Movimentos Sociais, o espaço dos debates internacionais: o prelo do acesso dos quenianos ao evento. Durante os dois primeiros dias, só entrava quem pagasse US$7. Depois de protesto de ativistas do país, que chegaram a invadir uma entrevista coletiva para falar do tema, a organização do Fórum liberou a entrada para todos. Mas a decisão não foi suficiente para sanar a revolta dos ativistas. A queixa contra a organização consta da declaração proclamada pelos movimentos sociais.

A ativista africana Virginia Mzants, da África do Sul, pediu atenção às questões africanas, como a proliferação da Aids e a privatização da água, enquanto um paquistanês puxava gritos pedindo a queda do presidente americano, George W. Bush, e do primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

O ator americano Denny Glover, ativista dos Direitos Humanos e embaixador da boa vontade das Nações Unidas, que participou do encontro, tornou-se uma celebridade no encontro. Fotografado pelos ativistas, afirmou que se emocionou ao ouvir os testemunhos sobre a história da África.