Título: Davos não teme esquerdas na América Latina
Autor: Berlinck, Deborah e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 25/01/2007, Economia, p. 33

Fórum critica 'capitalismo relutante' na região e ressalta necessidade de reformas para acelerar ritmo do crescimento

DAVOS, Suíça. A onda de esquerda na América Latina, resultado das eleições no ano passado, não assustou ninguém no único debate ontem sobre a região, na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Um gráfico colado na parede mostrava que, tanto direita quanto esquerda, estão convergindo para o centro. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi citado como exemplo de esquerda que empresários gostam. A exceção, claro, foi a Venezuela do líder populista Hugo Chávez, e a Bolívia e Equador, que estão alinhados com ele. Coube ao diretor-executivo da Pepsi, Michael White, reduzir o impacto em torno de Chávez. Como ele disse, Venezuela e Estados Unidos se atacam na retórica, mas nem Chávez quer deixar de vender petróleo para os americanos, nem George Bush quer deixar de comprar.

Por que a América Latina não cresce tanto quanto a China e a Índia? A pergunta, inevitável, dominou também boa parte do debate. A explicação do ex-presidente do México Ernesto Zedillo não deixou a platéia indiferente:

- Vamos mergulhar no capitalismo ou vamos continua sendo capitalistas relutantes? - perguntou, concluindo que a região precisa ser mais agressiva nas reformas para ser mais produtiva. - Podemos ter estabilidade. Mas isso não é o bastante para crescer rápido.

White, da Pepsi, concordou: ele também acha que os latinos são "capitalistas relutantes". Mas não soube explicar os motivos, apesar de ver progressos na redução da pobreza. Foi ele quem deu o tom positivo no debate, por um motivo que citou várias vezes: 40% do faturamento da Pepsi vêm da América Latina. O grupo investiu US$250 milhões no continente em 2006 e vai investir outros US$150 milhões este ano. Para ele, a região continua atraente.

Economistas prevêem expansão global forte

No geral, os debatedores bateram na mesma tecla: para crescer, a América Latina precisa flexibilizar o mercado de trabalho, gastar menos, distribuir renda, reformar instituições. Guillermo Ortiz, presidente do Banco Central mexicano, queixou-se de monopólios tanto do governo quanto privados, que impediriam a inovação econômica. O brasileiro Ricardo Young, do Instituto Ethos, destacou as vantagens competitivas que deveriam ser mais exploradas: agricultura e energias renováveis.

O presidente Lula chega hoje em Davos e terá dois dias para convencer investidores sobre seu novo programa. Por causa de sua presença, o Fórum dedicou dois debates na sexta-feira ao Brasil. Ontem, no debate sobre economia global, os economistas acreditam que 2007 terá forte crescimento, apesar da esperada desaceleração do crescimento dos EUA.

Instigado pela pergunta de um jornalista brasileiro, Nouriel Roubin, professor e presidente da Roubin Global Economics, elogiou as reformas macroeconômicas que levaram à estabilidade brasileira. Mas afirmou: o país precisa crescer mais.

Hoje em Davos

Das 10h às 11h: "Quando multinacionais dos mercados emergentes compram no exterior"

Das 10h às 11h: "Terrorismo"

Das 10h às 12h15m: Vários debates paralelos, com temas como "Competitividade", "Energia 2007: gerando soluções locais" e "Educação"

Das 14h45m às 15h45m: "Economia indiana" e "Mudança climática"

Das 17h45m às 18h45m: "Série energética: política do petróleo"