Título: Proposta afetaria preço de alimentos
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 25/01/2007, O Mundo, p. 36

Consumo de galinhas e porcos seria atingido por aumento na produção de etanol

WASHINGTON. O anúncio do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de que o país tem que aumentar em cinco vezes a produção de etanol (álcool combustível) para que o país deixe de ser dependente de importações de petróleo de "países hostis" enfrentará problemas que não serão facilmente contornados. Entre eles estão a capacidade de produção de milho, matéria-prima principal do etanol americano, e a própria viabilidade econômica da decisão do governo.

Enquanto produtores de milho estão comemorando altas no preço do produto, outros setores se preocupam. O problema foi reconhecido pelo próprio presidente americano, que visitou ontem o estado de Delaware para visitar uma usina de transformação de milho em etanol.

- Há uma restrição ao uso do milho para gerar energia. O etanol usado hoje vem do milho, e temos criadores de porcos e de aves que precisam do milho para alimentar seus animais - afirmou ontem o presidente americano. - Desta forma, haverá algum tipo de limite, em algum momento do futuro, à nossa capacidade de produzir etanol suficiente.

O preço do milho dos Estados Unidos dobrou nos últimos quatro meses e está no patamar mais elevado em uma década. O Conselho Nacional da Galinha, que reúne produtores da ave nos EUA, afirmou ontem que o aumento no uso de etanol já provocou uma elevação nos preços de galinhas de US$0,13 por quilo, já que o milho é o principal alimento para os animais.

- Se o governo continuar a tirar o milho da alimentação de animais domésticos e aves e transferi-lo para o fornecimento de energia, o custo da produção de comida irá aumentar - disse William Roenigk, economista do Conselho Nacional da Galinha.

Alegações semelhantes foram feitas ontem pelo Conselho Nacional dos Produtores de Suínos, que afirmou que o fornecimento de carne de porco poderia ser afetada.

Produção de etanol projetada não seria suficiente

Os próprios produtores de milho disseram ontem que poderiam gerar 15 bilhões de galões (57 bilhões de litros) de etanol em 2015. O número está muito abaixo do que Bush pediu no discurso de terça-feira, no qual citou a produção de 35 bilhões de galões (132,5 bilhões de litros) em 2017.

- Ninguém acredita que se possa chegar a tal volume a partir dos grãos apenas em dez anos - disse Bob Dinneen, presidente da Associação de Combustíveis Renováveis dos EUA.

De acordo com ele, é necessário fazer pesquisas para conseguir extrair petróleo de fontes de celulose que não sejam usadas para alimentação, como de certos tipos de madeira e de grama.

Mesmo que o governo conseguisse chegar ao nível de produção almejado, a conta não fecha. Hoje, os EUA utilizam 7,5 bilhões de barris de petróleo. Em 2030 - quando o governo espera produzir 60 bilhões de galões de etanol -, espera-se que o consumo seja de 9,8 bilhões de barris de petróleo.

O problema é que, mesmo que a produção de etanol chegue aos 60 bilhões de galões em 2030, o que é muito improvável, isso não chegaria a impedir o aumento das importações de petróleo dos EUA. Como cada barril comporta 42 galões, e a capacidade de produção de energia do etanol é de dois terços da gasolina, os 60 bilhões de galões equivaleriam a apenas um bilhão de barris de petróleo.