Título: Noites e invernos mais quentes
Autor: Azevedo, Ana Lúcia
Fonte: O Globo, 25/01/2007, O Mundo/ Ciência e Vida, p. 37

Estudo prevê que brasileiro sofrerá mais com secas e inundações

A chegada da noite representará cada vez menos alívio para o calor do dia no Brasil. Nas últimas cinco décadas, as temperaturas mínimas (registradas à noite e de madrugada) aumentaram no país, inclusive no inverno. Para cientistas, isso é um sinal de mudanças climáticas, ao que tudo indica ligadas ao aquecimento global, e não há indícios de que a situação vá se alterar. O calor segue uma escala ascendente. Inverno e primavera registram o maior aquecimento.

Os dados fazem parte de um amplo estudo sobre mudanças climáticas no Brasil. A pesquisa traça cenários para este século, detalhados para todas as regiões brasileiras. Ela foi realizada por cientistas do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável. Os resultados finais serão apresentados em março aos ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia. A idéia é que o trabalho oriente medidas preventivas para reduzir danos de desastres climáticos.

- Há muitas incertezas sobre o clima. Mas o aquecimento global não pode ser ignorado. Seu impacto será muito grande e afetará a vida das pessoas - diz José Marengo, do CPTEC, coordenador do projeto "Caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI", com apoio de Probio, Bird, GEF, CNPq e do GOF (britânico).

O pesquisador, que também integra o IPCC, destaca que os últimos 15 anos foram os mais quentes registrados na História, inclusive no Brasil. A falta de séries históricas sobre dados de chuvas dificulta a análise no Brasil. Mas tem sido registrado um aumento nas chuvas no Sul do Brasil. Nas outras regiões os dados ainda são imprecisos.

- Acreditamos, porém, que eventos extremos, como secas e inundações, se tornarão progressivamente mais freqüentes - diz Marengo.(A.L.A.)