Título: O PT contido
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 26/01/2007, O Globo, p. 2

As eleições para a presidência da Câmara e a formação de uma base parlamentar aliada com dez partidos terão reflexos na reforma ministerial. Os petistas estão chegando à conclusão de que o presidente não vai ampliar o espaço do partido no governo. E que vão ter de entregar, para os aliados, uma parte dos cargos que ocupam nos estados por causa dos acordos na disputa pela Câmara.

Os petistas de São Paulo estão convencidos de que a ex-prefeita Marta Suplicy, nome forte para a sucessão presidencial de 2010, será chamada para o Ministério. Mas eles já não falam mais em retomar o das Cidades. Os petistas recolheram-se depois que os líderes do PP, que apóiam a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara, manifestaram-se pela permanência do ministro Márcio Fortes. Por isso, avaliam hoje que é mais fácil Marta entrar no governo no lugar de um petista. O alvo da cobiça agora é a Educação. Dizem que Fernando Haddad é um técnico, ligado a um grupo político pequeno, o do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro; e, que Marta tem o que mostrar na área: os Ceus e os kits escolares. A petista chegaria ao governo e logo seria embalada pelo anúncio de um plano de educação de qualidade.

Os petistas também não terão como fazer pressão para que o PMDB neogovernista, do presidente do partido Michel Temer (SP), assuma a cobiçada pasta dos Transportes. Ocorre que eles estão comprometidos com o comando do PR e não vão poder atrapalhar o retorno do senador eleito Alfredo Nascimento (AM) para o cargo. O mesmo ocorre em relação a outro posto pretendido pelo PMDB neogovernista: a pasta da Integração Nacional. O cargo é ocupado por Pedro Brito, aliado do deputado eleito Ciro Gomes (CE), eventual candidato do PSB à Presidência da República em 2010. Os petistas fizeram muitos acenos ao PMDB neogovernista para obter seu apoio nas eleições da Câmara. Mas assessores do presidente garantem que Lula não dará um passo que leve Ciro Gomes a se afastar do governo.

A mistura entre eleições na Câmara e reforma ministerial é, historicamente, um complicador político. As disputas no interior da base parlamentar aliada custam caro aos governos, pois são eles, e não os partidos, que pagam a conta dos ressentimentos e dos apetites não saciados.